A produção de Greta Gerwig com Margot Robbie e Ryan Gosling estreou esta quinta-feira nas salas de cinema portuguesas, sendo um dos filmes mais antecipados do ano. No episódio desta semana do podcast do Acho Que Vais Gostar Disto, o João Dinis e o Miguel Magalhães falaram das surpresas do filme, do impacto que poderá ter e de se não acaba por ser uma ótima publicidade à Mattel, empresa que é dona da popular boneca.
Até ao anúncio deste filme da “Barbie”, a popular boneca, criada em 1959 por Ruth Handler, já tinha vivido tempos melhores. Na última década, com uma maior consciencialização para a igualdade de género e à forma como as mulheres são representadas, a “Barbie” tornou-se cada vez menos um símbolo de empoderamento das mulheres e mais uma representação das expectativas irrealistas com as quais as mesmas têm de lidar diariamente. E isso não foram boas notícias para a Mattel, empresa dona da “Barbie”, que por essa razão vendia menos bonecas de ano para ano.
O projeto para um filme com a “Barbie” começou a ser pensado em 2016 com Amy Schumer, mas começou a ganhar força em 2019, quando a comediante se afastou e Margot Robbie e Greta Gerwig ficaram ao leme da adaptação para o grande ecrã. Escreveu-se um guião, da autoria de Greta Gerwig e do marido Noah Baumbach, recrutou-se um elenco de luxo com destaque para a seleção de Ryan Gosling para o papel de Ken e entretanto começaram as gravações, que sofreram alguns atrasos devido à pandemia.
No final de 2022, começou uma campanha de marketing como há muito tempo não víamos para um filme. Os anúncios dos atores que iam estar no filme e os respetivos papéis - Will Ferrel, Helen Mirren, Dua Lipa, Emma Mackie, Simu Liu, America Ferrera, entre muitos outros. As notícias de que havia uma escassez da cor rosa no mundo inteiro devido à produção do filme. E, mais recentemente, uma série de iniciativas como uma Casa Barbie em Malibu que era possível arrendar, as coleções de roupa das principais marcas de vestuário ou mesmo o duelo com “Oppenheimer” de Christopher Nolan, a estrear nas salas de cinema no mesmo dia, que até ganhou um nome próprio - “Barbenheimer” - ou não fosse também isto um importante boost para a comunicação de ambos os filmes.
Mas vamos ao filme.
A expectativa versus a realidade
Estará a mentir quem não imaginou uma história muito fútil quando ouviu falar pela primeira vez num filme de “Barbie”. Seria expectável algo em torno de uma comédia romântica, em que apesar de alguns obstáculos, a Barbie e o Ken arranjavam uma forma de ficar juntos no fim e viverem felizes para sempre. As primeiras entrevistas de Greta Gerwig e do elenco, bem como o primeiro trailer, davam a entender que não ia ser exatamente isto, mas restava ver para crer.
O filme começa logo com uma ode a “2001: Odisseia no Espaço” inspirando-se na cena inicial do filme onde macacos estão a partir ossos no meio do nada, para uma réplica onde crianças a brincar estão a fazer o mesmo, mas desta vez com “nenucos”. Porquê, perguntam? Para demonstrar aquele que à partida seria o objetivo da “Barbie” enquanto produto: uma boneca que quebrava o estereótipo de “brincar às mães” e alargava a brincadeira de milhões de raparigas aos sonhos de poderem ser o que quisessem. Com as “Barbies”, as crianças podiam brincar com aquela que queriam que fosse a sua versão no futuro, sem que o instinto maternal tivesse de ter algum impacto. Brincavam com a “Barbie” médica, a jornalista, a juíza, a política, a empresária, a atriz, o que fosse, e com os acessórios que tornavam o seu mundo um lugar bem mais confortável e justo para as mulheres.
É esta a realidade vivida em “Barbieland”, um lugar fictício criado por Greta Gerwig, onde “Barbies” vivem da forma como brincam com ela no “mundo real”. Dominam a sociedade em todos os sentidos, politicamente (a Presidente é uma mulher e a Casa Branca é na realidade Casa Cor-de-Rosa) e socialmente (têm os principais empregos), fazendo que tudo gire em torno delas, incluindo os “Kens”, homens cujo dia só faz sentido se as “Barbies" repararem neles. É pelo menos isto que nos é apresentado por Helen Mirren (narradora do filme e do trailer) quando nos é apresentado as personagens de Margot Robbie e Ryan Gosling, a Barbie Estereótipada e o Ken, respetivamente.
Só que tudo muda quando a “Barbie” de Robbie começa a ver o seu mundo virado do avesso. Pensamento sobre morte, celulite nas pernas, pés cujo calcanhar não toca no chão são algumas das coisas que começam a estragar a sua utopia e que a obrigam a fazer uma viagem por um portal que a leve ao “mundo real” e que a leve à pessoa que está a brincar, que suspeita ser a causa de todos os seus problemas. É nesta procura que está o cerne do filme e da sua história e não na busca por um amor com o Ken de Gosling. E ainda bem, porque ambas as personagens têm estofo suficiente para terem um arco muito próprio no filme e servirem como uma reflexão para aquilo que é o papel da mulher na sociedade e a responsabilidade que homens devem ter para garantir uma maior igualdade.
Um bom filme ou uma incrível campanha de marketing?
É verdade que a produção do filme surgiu numa altura em que as vendas da Barbie não estavam muito famosas. E é verdade que o filme tenta fazer um mea culpa da Mattel face a alguns problemas originados pelas bonecas e más decisões que foram tomadas (brinquedos descontinuados, por exemplo). Portanto, não é nenhuma ofensa dizer que “Barbie” é também uma ótima campanha de posicionamento da Mattel de um lado mais certo da História, com um filme que, ao final do dia, passa uma mensagem bem mais forte do que aquela que inicialmente esperávamos.
Foi por aqui que circulou o episódio desta semana do podcast, onde também falámos dos nossos momentos favoritos, de outras inspirações para o filme e da banda sonora. “Barbie” já está disponível em salas de cinema por todo o país.
Ouve este episódio do nosso podcast sobre a “Barbie” na Apple Podcasts, no Spotify ou qualquer uma das plataformas habituais.
Recomendação para o fim de semana
Como não podia deixar de ser e sem grande surpresa, aquilo que temos para recomendar para os próximos dias é que deem licença a vocês próprios para se deixarem levar pelo fenómeno #Barbenheimer. E, não. Não é só nos Estados Unidos da América que está a acontecer. Por cá também.
Para quem não está a par, o termo "Barbenheimer" nasce da junção dos nomes dos filmes “Barbie” e “Oppenheimer”, que estrearam no mesmo dia (nos EUA, em Portugal e muitos outros locais no mundo). Do primeiro já falámos nesta newsletter; o segundo, é um thriller épico filmado com câmaras IMAX, escrito e realizado por Christopher Nolan, que puxa o público para o abissal paradoxo do enigmático homem que tem de arriscar destruir o mundo para o salvar. Ou, seja, um filme sobre o pai da bomba atómica, e do qual falaremos mais em detalhe no podcast da próxima semana.
À partida, seria de esperar que houvesse discussão do que ver, numa guerra entre um e outro, pois não podiam ser filmes mais díspares e com conteúdos e tons diferentes. Porém, não foi nada disso que aconteceu. Nas últimas semanas, os fãs não pararam de criar memes, artigos e vlogs que associavam os dois filmes, destacando as diferenças entre ambos e, inevitavelmente, perguntando-se qual deveria ser visto primeiro nesta celebração especial do cinema. Era o nascimento da #Barbenheimer, força motriz do sucesso que está a puxar pela experiência na sala escura como há muito não se via e que até levou estrelas como Tom Cruise, Margot Robbie ou Cillian Murphy a celebrar o movimento e explicar que fazem intenções de ver os dois filmes também.
Por cá, segundo a Cinemundo, o público aderiu em massa, de Norte a Sul do país. “Barbie”, aliás, conquistou mesmo uma das maiores aberturas de sempre da história do cinema em Portugal com 54 mil espetadores. Contudo, os números de Oppenheimer são igualmente impressionantes com mais de 17 mil espetadores, com um destaque especial para o formato IMAX.
Créditos finais
Harry Styles. Pela segunda vez em menos de um ano, o britânico trouxe a Portugal as canções que compõem a sua “Love On Tour”, digressão com a qual tem corrido o planeta. Pelo Passeio Marítimo de Algés passaram 60 mil pessoas – e mais teriam passado, houvesse capacidade para tal. Reportagem para ler no SAPO24.
Rod Stewart na Altice Arena. Rod Stewart regressou a Portugal num concerto onde interpretou os seus maiores êxitos e deixou bem explícito o seu amor pelo Celtic, homenageou colegas falecidos, povos em guerra e ainda deixou as cantoras que o acompanham brilhar. Reportagem para ler no SAPO24.
Morreu Tony Bennet. O cantor norte-americano, que deu voz a clássicos como "I left my heart in San Francisco", faleceu hoje aos 96 anos, em Nova Iorque. (SAPO24)
Duna: Parte 2. A sequela do épico de ficção científica de Denis Villeneuve pode chegar às salas só em 2024 devido à greve que está a paralisar Hollywood. (Variety)
Blur - The Ballad of Darren. A banda inglesa lançou nesta sexta-feira o primeiro disco em oito anos. Spotify | Apple Music
Britney Spears & WIll.i.am. Depois de "Scream & Shout", de 2012, o duo está de volta com "Mind Your Business". (Ouve aqui)
Joker: Folie à Deux. Lady… Lee? Aparentemente, Lady Gaga pediu para que a tratassem por "Lee" durante a rodagem da sequela de “Joker”. (IndieWire)
Borderlands. O que têm em comum Cate Blanchett, Kevin Hart, Jack Black, Ariana Greenblatt, Foriean Munteanu e Jamie Lee Curtis? Fazem todos parte do elenco da adaptação do popular videojogo. O realizador? Eli Roth, de “Inglourious Basterds”. (The Verge)
Matt Damon. O ator disse à mulher durante uma sessão de terapia para casais que faria uma pausa na representação a não ser que “Nolan telefonasse” - depois recebeu a oferta de “Oppenheimer”. (Variety)
TikTok. Pode a nova geração de humoristas estar a nascer nas redes sociais? (Variety)
Let's look at the trailer
The Marvels (a equipa cósmica de Capitão Marvel, Monica Rambeau e Ms. Marvel em ação. Em novembro, nos cinemas)
O Criador (Típico blockbuster de ação, verão e explosão. Com John David Washington em modo “Tenet”. Nos cinemas, em setembro)
The Holdovers (A equipa de “Sideways”, o ator Paul Giamatti e o realizador Alexandre Payne, voltam a reunir-se para nova sátira. Nos cinemas, em novembro)
Gran Turismo (Novo trailer baseado no popular videojogo da PlayStation e numa história verídica. De Neill Blomkamp, o realizador de “Distrito 9”)