No último episódio do podcast Acho Que Vais Gostar Disto, o João Dinis e o Miguel Magalhães falam do regresso da série "The Bear". A segunda temporada estreou esta semana no Disney+ e ainda que se tenha reinventado o menu, os novos episódios continuam a cozinhar histórias de qualidade Michelin.
Sobre a primeira temporada desta série original da FX, em que seguimos de perto os passos (quase em jeito sombra) de Carmen "Carmy" Berzatto (Jeremy Allen White, o “Lip” de “Shameless”), um jovem Chef do tipo de restaurantes que associamos a estrelas Michelin e a comida sofisticada, que por força de uma tragédia pessoal regressa à sua terra natal para gerir o pequeno restaurante The Beef, já falámos mais detalhadamente aqui.
Mas em jeito de resumo, é sobre comida, amor e a loucura do negócio da restauração. A história leva-nos à fria Chicago e conta-nos o esforço de Carmy, um Chef que tem tanto de talentoso como de desenrascado (chega a ter de negociar um casaco da Levis a troco de bife) que luta com tudo o que tem para salvar o restaurante que era do irmão. No meio desta batalha, transformou uma equipa de cozinha de sandes no pão numa cozinha requintada e ganhou uma nova família. Este foi o menu servido na primeira fornada de episódios que conquistou a crítica e o público.
Agora, a dificuldade é outra: passa por mostrar o risco e as dificuldades de quem tenta abrir um restaurante novo. No fundo, o que acontece quando se deixa de lutar para sobreviver e se tenta começar do zero com um conceito totalmente novo. É preciso pensar em renovações, financiamento, pedir licenças, escolher os novos pratos e receitas, dar uns retoques no staff, aprimorar técnicas de cozinha, fazer esgrima com um orçamento limitado, lidar com stress, gerir egos e emoções à flor da pele.
Portanto, o que nos é servido? A luta de Carmy e Sydney (Ayo Edebiri), a sua Sous-Chef e braço-direito (e a restante equipa) que juntos se vão despedir das amarras do passado e do velhinho The Beef e vão tentar reinventar-se e criar algo mágico com o novo The Bear.
Mas apesar desta mudança de prato, diga-se com toda a honestidade que os ingredientes que tanto sabor deram aos primeiros episódios continuam todos lá, só que por ora apimentados com a evolução natural das personagens.
Porque é o que esta segunda temporada é: uma evolução. Da história, das personagens e da própria série. Carmy continua a ser a figura central, o urso da cozinha. No entanto, os novos episódios em vez de se centrarem exclusivamente nas suas batalhas pessoais ou até no seu novo caso amoroso chamado Claire (Molly Gordon), aproveitam a toada para desenvolverem e desvendarem as restantes personagens — e não só, dão-lhes uma oportunidade de crescer.
A transformação mais marcante talvez seja a de Richie (Ebon Moss Bacharach), o “primo” bonacheirão italiano típico sem rumo que ferve em pouca água, que anda meio perdido e sem saber muito bem qual vai ser o seu papel no novo restaurante. No The Beef, antes de Carmy, Richie tinha algo a que se agarrar — era a voz de comando. No novo The Bear, sente que é olhado de lado por todos, um empecilho. Até que vai passar uns tempos na cozinha do restaurante da Chef mundialmente famosa Olivia Coleman (um cameo pequenino, mas adorável e que se devia repetir), onde o arco narrativo se completa e Richie ganha amor próprio, um propósito e o respeito dos outros.
Contudo, embora a sua evolução seja a mais notada, todas as personagens tiveram momentos e fases de amadurecimento. Natalie, a irmã de Carmy, entrou na família para ajudar em tempos de stress, mas rapidamente - ainda que não o admita - o papel de gestora. Os chefs mais velhos da equipa, Tina (Liza Colón-Zayas) e Ebrahim (Edwin Lee Gibson), voltam à escola para aperfeiçoar as técnicas que a nova cozinha exige (e cada um lida de maneira diferente com isso). Marcus (Lionel Boyce) vai até à Dinamarca para aprender mais com Luca (Will Poulter) sobre o poder em "aceitar os erros" e assumir-se como o rei da pastelaria e das sobremesas. Sydney tem de gerir a sua frustração com Carmy, por este estar andar distraído com Claire e se esquecer das responsabilidades do restaurante. Tudo naquele tom frenético e intenso, tão característico desta série.
Como bem sintetiza esta crítica, em The Bear os estados de espírito e as emoções estão sempre no fio da navalha. E o exemplo perfeito disso é o episódio mais longo da temporada, de uma hora, que recorda um Natal em jeito de pesadelo da família Berzatto. Jamie Lee Curtis (a mãe de Carmy) e Jon Bernthal (irmão de Carmy) cintilam mais do que as restantes estrelas, mas Bob Odenkirk e Sarah Paulson também alimentam esta autêntica peça de tragicomédia que nos mostra porque razão Carmy é como é. Do melhor e mais intenso que se fez na televisão este ano.
Veredicto: a série é assim tão boa? É. Se os novos episódios são assim tão incríveis? São. Ao ponto de mesmo que a terceira temporada ainda não esteja confirmada, se nos perguntarem se estamos interessados em ver mais do menu de The Bear, a nossa resposta só pode ser uma: Yes, Chef!
Nos créditos finais, a nossa rubrica de recomendações, falamos do documentário “Anthony Bourdain: O Eterno Viajante” (Netflix) e do filme “Burnt” (Prime Video).
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Oppenheimer. O novo filme de Christopher Nolan esteve em discussão no podcast Acho Que Vais Gostar Disto. Cillian Murphy protagoniza o pai da bomba atómica num elenco onde também estão nomes como Robert Downey Jr, Matt Damon, Emily Blunt e Florence Pugh. E, reza a lenda, não existiria sem Robert Pattinson.
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Créditos Finais
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