Numa altura em que o poder da nostalgia é levado ao limite, chega ao cinemas a adaptação de um dos filmes mais conhecidos da Disney. “A Pequena Sereia” começou a causar discussões intensas ainda antes de termos visto as primeiras imagens, mas, depois do trailer, seguiram-se os debates que questionavam o valor desta longa metragem, que vem reavivar a memória de Ariel 34 anos depois. No fim de contas, será que valeu a pena?
Mariana Santos
Vi “A Pequena Sereia” pela primeira vez quando era muito nova (em VHS, obviamente) e é possível que seja um dos filmes da Disney que me traz melhores memórias. O filme que adaptou o conto original, obra de Hans Christian Andersen, chegou em 1989 pelas mãos dos realizadores Ron Clements e John Musker, dois nomes já muito conhecidos neste universo animado, e veio inaugurar a época de Renascimento da Disney. Desta fase, fizeram também parte títulos como “A Bela e o Monstro” (1991), “Aladino” (1992), “O Rei Leão” (1994) e “Tarzan” (1999). Em suma, “A Pequena Sereia” fez parte ‘daquela altura em que a Disney era boa’.
Feito o contexto, acho que é fácil perceber a pressão que está em cima de quem decide dar uma nova vida a estas histórias e trazer-lhes um ar mais moderno. Nos últimos anos, este fenómeno aconteceu com vários exemplo, como “Cinderella” (2014), “A Bela e o Monstro” (2017), “Dumbo” (2019), “O Rei Leão” (2019), “Mulan” (2020), e “Peter Pan & Wendy”, que chegou já este ano. Ora, o caso mais recente é o de “A Pequena Sereia”, que vai chegar aos cinemas portugueses na próxima quinta-feira, dia 25 de maio, e que nós já tivemos a oportunidade de espreitar.
As notícias sobre esta nova adaptação chegaram em 2016, mas esta não era a primeira vez que tentaram dar uma nova roupagem à história de Ariel. Depois do filme de animação de 1989, já tinham surgido uma sequela e uma prequela animadas (“A Pequena Sereia II: Regresso ao Mar” em 2000 e “O Segredo da Pequena Sereia” em 2008, respetivamente), mas nenhuma delas foi boa o suficiente para ser relembrada. Por isso, à partida, a fasquia nem estava alta.
Pouco depois das notícias do novo filme, surgiram os rumores sobre quem iria comandar esta viagem. Vários nomes foram falados, inclusive alguns deles vieram a público confessar que passar “A Pequena Sereia” de animação para live-action seria um projeto muito complicado de fazer acontecer, mas foi Rob Marshall que acabou por assumir o papel de realizador do filme. Com Lin-Manuel Miranda na equipa de produção, a parte musical (tão importante neste tipo de filmes) estava praticamente assegurada, mas ainda faltava um ponto importante: Quem seria a nova Ariel? Halle Bailey.
A atriz e compositora já não é nenhuma desconhecida nestas andanças de Hollywood, e ganhou bastante fama com a dupla musical com a sua irmã, Chloe x Halle. Mas quando chegou a hora de lhe dar uma oportunidade como Ariel, a internet revoltou-se. A figura que habitualmente conhecemos por ter um longo cabelo vermelho vivo e uma pele branca ia mudar ligeiramente as suas parecenças físicas e, apesar de pessoalmente não achar assim tão importante, houve quem considerasse inadmissível ter uma rapariga negra neste papel.
Mas, afinal, como é que ficou o resultado final? Ora bem, ainda que tenha gostado de algumas adaptações live-action que a Disney foi fazendo ao longo dos anos, confesso que “A Pequena Sereia” não foi na mouche. O filme é praticamente igual ao original: Ariel continua a ser a filha rebelde do Rei dos Sete Mares, amiga de um peixe e de uma gaivota, que se deixa guiar acima de tudo pela sua curiosidade em relação ao que se passa fora do oceano. Apaixona-se na mesma por Eric, um príncipe humano, que salva após uma violenta tempestade, e faz igualmente um perigoso acordo com Úrsula (uma mulher-polvo interpretada por Melissa McCarthy) para que possa ganhar pés e ir atrás do seu amor. Portanto, a história mantém-se e é quase uma réplica modernizada frame a frame, mas tem mais 30 minutos que seriam perfeitamente dispensáveis. Se ao menos este tempo extra fosse inteiramente dedicado ao caranguejo aka melhor personagem de sempre...
No pouco que mudaram, está a alteração ligeira da letra da música “Part of Your World”, com o objetivo de não passar a mensagem errada e de apelar ao consentimento. Ora, assim sendo, podemos concluir que o “mais moderno” quer dizer apenas “mais inclusivo e menos problemático”. E, nessa ótica, este novo filme funciona. Ainda assim, torna-se imperceptível qual é o público-alvo desta nova Ariel, e eu não nego que esperava mais de um live-action que se passa maioritariamente debaixo do mar e que tanto potencial parecia ter para criar novos cenários e ser um espetáculo visual a la “Avatar: O Caminho da Água”.
No final de contas, vale pela nostalgia. Valha-nos a nostalgia. Isso e todas as versões originais que estão disponíveis na Disney+ e que, no final do dia, nos confortam mais do que qualquer nova versão que possa surgir. Nos cinemas, “A Pequena Sereia” (2023) vai chegar em versão original e em versão portuguesa, para que possas ver aquela que preferires.
Créditos finais
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