Fala-vos o Zodíaco: Um epílogo não oficial que complementa o filme de David Fincher
Séries | Netflix
Em “Fala-vos o Zodíaco”, a Netflix reabre o caso do famoso assassino dos enigmas e códigos, agora com testemunhos e revelações inéditas sobre o principal suspeito. Com uma abordagem que quase complementa o filme de David Fincher, esta série promete cativar os entusiastas de true crime.
Mais de 50 anos depois de um assassino em série ter semeado o terror na área da baía de São Francisco, entre o final dos anos 60 e início dos 70, o documentário “Fala-vos o Zodíaco”, lançado esta semana na Netflix, pode ter trazido novas pistas sobre um dos maiores mistérios criminais por resolver nos EUA. Dividida em três partes, a série mergulha no lado mais perturbador do principal suspeito, Arthur Leigh Allen, e apresenta testemunhos inéditos de quem conviveu de perto com ele. Como diz a sinopse, trata-se das inquietações de "uma família que procura respostas".
Como tal, “Fala-vos o Zodíaco”, em vez de focar-se exclusivamente nos pormenores dos crimes, leva-nos à história de David e Connie Seawater, crianças na altura dos assassinatos e que viam Allen como uma figura paternal, mas que agora, como adultos, não só fazem confissões reveladoras sobre o mistério da identidade do Zodíaco, como insinuam que podem ter sido levados aos locais de alguns dos homicídios.
Através de entrevistas e imagens de arquivo, o documentário oferece uma perspetiva íntima que, embora perturbadora, revela a faceta mais desconhecida de Allen para além de suspeito: a de professor e homem de confiança para uma família.
Quem era Arthur Leigh Allen?
Para quem conhece o caso, o nome de Allen é provavelmente familiar, já que ele foi o único suspeito credível a quem polícia americana apontou o foco da investigação, embora nunca tenha conseguido reunir provas suficientes para uma acusação formal. Ainda assim, o seu nome paira sobre o caso, muito devido ao trabalho de investigadores e jornalistas como Robert Graysmith, cujo livro “Zodiac” inspirou o filme homónimo de David Fincher em 2007.
Recorde-se que o assassino do Zodíaco matou pelo menos cinco pessoas entre dezembro de 1968 e outubro de 1969 (embora se acredite que o número real seja de 30). Durante esse período, enviou cartas crípticas e com enigmas, além de roupas ensanguentadas, aos principais jornais de São Francisco, exigindo que as suas mensagens fossem publicadas na primeira página sob ameaça de fazer novas vítimas. A certa altura, chegou a ameaçar explodir um autocarro escolar cheio de crianças. Foi também o homem que disse gostar de matar pessoas “porque era muito divertido”.
Mas, no documentário, Arthur Leigh Allen é apresentado como uma figura paradoxal: uma pessoa próxima dos irmãos Seawater, que os levava em excursões, tomava conta deles e lhes ensinava a decifrar códigos. Tanto que na série Connie Seawater relembra a estranha sensação ao ver o filme de Fincher: “Parecia tudo assustadoramente familiar”, diz, revelando como o desempenho do ator John Carroll Lynch, que assumiu o papel de Allen, a fez reviver memórias desconcertantes.
Para os Seawater, o mistério do Zodíaco é extremamente pessoal, uma cicatriz emocional que os marca até hoje. Mesmo assim, o documentário revela que a mãe dos irmãos Seawater sempre defendeu Allen, apesar das graves suspeitas que recaíam sobre ele. Allen acabaria por falecer a 26 de agosto de 1992, aos 58 anos.
Um epílogo não oficial
É quase impossível não mencionar “Zodiac” (2007), de Fincher, ao falar do caso e de “Fala-vos o Zodíaco”. Além de influenciar inúmeras produções sobre serial killers, moldou a forma como o público encara a própria história do Zodíaco. (E já que estamos a falar dele, mais vale recomendar que se veja ou reveja o filme, nem que seja para nos relembrarmos porque está na lista dos 50 Melhores Filmes do Século XXI da Hollywood Reporter.)
No entanto, mesmo que a comparação seja inevitável, há uma grande diferença de abordagem. Fincher foca-se na investigação jornalística e na obsessão de Graysmith (interpretado por Jake Gyllenhaal), o que levou muitos a chegarem ao fim do filme com uma certa frustração pela falta de respostas. Ou, melhor, desiludidos com a falta de resolução por o filme se focar mais em Graysmith do que na própria caça ao Zodíaco. A essas críticas, Fincher respondeu no ano passado: o foco no ponto de vista de Graysmith deve-se ao facto de o filme se basear apenas no livro deste autor e não em todas as teorias sobre o Zodíaco.
Já a série da Netflix vai direto ao assunto, centrando-se nos testemunhos de quem conviveu de perto com Arthur Leigh Allen — não apenas a família Seawater, mas também antigos alunos. E é neste sentido, como observa o Den of Geek, que se pode dizer que o documentário funciona como uma espécie de complemento ao filme, assumindo o papel de um epílogo não oficial, já que acrescenta o elemento — a apresentação de mais provas diretas contra o principal suspeito — que faltava à adaptação de Fincher.
O mistério continua
O assassino do Zodíaco continua a fascinar e a inspirar inúmeras teorias e adaptações. E embora Arthur Leigh Allen tenha sido identificado como suspeito e tenha sido preso por molestar uma criança em 1974, a polícia diz não ter provas suficientes para afirmar com certeza de que ele era o verdadeiro Zodíaco — daí o caso estar, ainda hoje, por resolver.
Para quem quiser aprofundar o tema, recomenda-se a leitura deste artigo da Time, que decifra a realidade e os factos dos eventos retratados na série.
📚 Sugestões de leitura
A MadreMedia, responsável pelo clube de leitura É Desta Que Leio Isto e da marca Acho Que Vais Gostar Disto, tem disponibilizado no SAPO24 o primeiro capítulo ou outro excerto de livros recentemente publicados ou prestes a ser lançados. Nesta semana, a nossa sugestão de leitura destas pré-publicações é “Breve História da Bebedeira”, do jornalista britânico Mark Forsyth.
Sinopse: Um divertido passeio pelos bares nos últimos dez mil anos, escrito por alguém que praticamente não bebe. Como, porquê, onde e quando a Humanidade se divertiu, desde a Idade da Pedra até ao presente é o propósito desta História alcoólica. O autor mostra que não há civilização em que não se beba. O Egito (cerveja) e a Grécia e Roma (vinho) dependiam do álcool para criar as suas magníficas obras. E onde a humanidade bebe, prospera; e prospera, se bebe. Os antigos persas debatiam as questões políticas duas vezes: uma bêbedos e outra sóbrios. Os vikings acreditavam que o hidromel era a fonte da poesia. A punição asteca para a embriaguez era o estrangulamento público. E os londrinos do século XVIII viram-se obrigados a comprar gin a um gato mecânico. Ao longo da História, cada civilização encontrou uma forma de celebrar, ou de controlar, a eterna tendência humana para se enfrascar.
O excerto deste livro pode ser lido AQUI.
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