É impossível falar de Deadpool sem fazer uma breve viagem no tempo. Quem acompanha o universo da Marvel há vários anos sabe o quão díficil foi trazer esta personagem para o grande ecrã e torná-la numa figura de relevo para o franchise de super-heróis, numa altura em que os seus filmes eram cada vez mais populares.
O protagonismo das BD deu apenas para que nos anos 2000 a personagem e Ryan Reynolds fizessem uma curta aparição no universo do X-Men, mas pouco mais do que isso. Os anos que seguiram foram marcados por vários argumentos, várias ideias para adaptações, várias integrações com outros super-heróis. Houve também vários tipos de “tom”, que podiam ou não ter um fit com a visão que Kevin Feige, o Presidente da Marvel Studios, tinha para o universo de “Vingadores” que estava a construir. A versão PG-13 de “Deadpool”, que bebia muito do humor de Reynolds e que tinha zero problemas em comentar a atualidade de Hollywood e dos EUA não era o produto mais fácil de vender a acionistas zelosos dos seus interesses financeiros (e políticos também).
Em 2016, “Deadpool” chegou aos cinemas e arrebatou os corações de milhões de fãs no mundo inteiro. A Fox, que na altura era dona dos direitos da personagem, atribuiu ao filme um orçamento de 58 milhões de dólares, bem abaixo do que costuma ser normal neste género, demonstrando que apesar de ter dado o ok para a sua produção, tinha alguma desconfiança no sucesso que de facto podia ter. 783 milhões de dólares depois, Reynolds e companhia mostraram que sabiam o que estavam a fazer e deram uma autêntica lição tanto em termos de história como de marketing do próprio filme. A capacidade que “Deadpool” teve de entrar num grupo restrito de super-heróis com direito ao seu próprio filme, de expremer ao máximo as condições que lhe tinham sido dadas e de explorar formas inovadoras para chegar a novas audiências tornou-o num case-study na indústria de Hollywood.
Para quem quiser recordar algumas das campanhas do primeiro filme, este artigo da Wired faz um ótimo resumo
Dois anos mais tarde chegou a sequela “Deadpool 2”, agora com um budget maior de 110 milhões de dólares. Ainda sob a alsada da Fox, a receita utilizada foi replicar a estratégia que tinha resultado no primeiro filme e esperar os mesmos resultados… e assim foi. “Deadpool 2” fez 785 milhões de dólares em bilheteira e tornou-se o filme “R-Rated” com melhor performance de sempre. Reynolds regressou com o seu sarcasmo e com uma narrativa que o colocava como o verdadeiro outsider do universo da Marvel. A personagem que todos gostam de acompanhar, mas que era impossível de colocar em qualquer uma das caixas do franchise, fosse os X-Men, os Avengers ou qualquer outro grupo. Um super-herói (ou anti-herói) destinado a fazer o seu próprio caminho longe dos planos maiores que a Marvel tinha para o seu universo.
O terceiro capítulo com Wolverine
Passados seis anos, o paradigma mudou por completo. Em 2024, já não é o Deadpool que precisa desesperadamente que a Marvel lhe dê a atenção que ele merece, mas sim a Marvel que olha para esta personagem como uma oportunidade de recuperar o fulgor que perdeu durante os últimos anos.
Já muito se escreveu sobre as dificuldades da Marvel e sobre o fenómeno da “fadiga de super-heróis”. É verdade que a produção excessiva de séries e de filmes pós-Endgame diluiu um pouco o entusiasmo que milhões de fãs tinham por personagens da Marvel e as novas (com algumas exceções) não vieram propriamente substituir esse vazio. Por outro lado, o multiverso, apesar de dar ótimas narrativas, deixa sempre a ideia de que nada está em causa porque qualquer personagem que possa desaparecer, acaba sempre por ter a chance de voltar noutro contexto completamente diferente.
É este momento que nos traz precisamente a “Deadpool & Wolverine”, o terceiro capítulo da saga liderada por Reynolds. É impossível falar da história do filme sem revelar algum tipo de spoilers, por isso, vamo-nos remeter a um comentário geral sobre o mesmo e sobre o que achamos que tenta fazer com bastante sucesso.
Seis anos é muito tempo sem ver uma personagem, principalmente se olharmos para os últimos anos de Hollywood que tenta tirar o máximo proveito de sequelas e mais sequelas para encher as salas de cinema e gerar mais receita. É por isso fácil de imaginar que o “Deadpool” que vimos em 2018 já não é o mesmo em 2024. Por outro lado, a última vez que vimos Hugh Jackman no papel de Wolverine foi em “Logan”, em 2017, filme que marcou a sua despedida da personagem que, tanto quanto sabemos, morre no fim. Contudo, a forte amizade que tem com Reynolds e o facto de a Disney ter comprado a Fox em 2021, ajudou a que houvesse mais poder de fogo para o colocar a vestir as garras de adamantium mais uma vez. Com base nos trailers lançados e na coexistência das duas personagens não é preciso ser um argumentista de renome para perceber como é que a Marvel os vai juntar. Mas nada como confirmar nos primeiros 20 minutos do filme.
O que se pode dizer sobre a história é que é em simultâneo uma celebração da Marvel (e dos X-Men), com todos os sucessos bem-documentados, mas principalmente das coisas que não correram tão bem, que ajudaram mesmo assim a formar a “powerhouse” que é hoje. Esta ideia de refletir sobre o falhanço é especialmente importante numa altura em que nunca houve tantas dúvidas sobre o que é que o franchise pode fazer mais que ainda não tenha feito. “Deadpool & Wolverine” é um autêntico espetáculo de ação ao nível do melhor que a Marvel já fez, é uma viagem nostálgica muito bem construída e é sobretudo uma espécie de sessão de terapia com as opções que tem daqui para a frente.
A “fadiga de super-heróis” só existe se os estúdios decidirem aplicar o mesmo padrão de história a qualquer personagem sem lhe dar qualquer tipo de personalidade, carisma e empatia. A razão porque tanta gente gosta de “Deadpool” é porque continua a fugir a regra mantendo-se fiel às expectativas geradas à sua volta. Não é (e esperemos que nunca seja) só mais um filme de super-heróis. Não serve isto para dizer que todos os super-heróis nos quais a Marvel aposte no futuro tenham de ser sarcásticos e estar a quebrar constantemente a “quarta parede”. No entanto, com o nível de talento e recursos que existem atualmente, juntamente com as várias histórias por explorar nas BD, enquanto fãs podemos exigir que nos mostrem algo que não tenhamos visto antes. “Deadpool & Wolverine” faz isso e só podemos rezar para que os próximos projetos da Marvel também o façam.
“Deadpool & Wolverine” estreou esta quinta-feira nas salas de cinema portuguesas.
🎞️ Na Internet, no mundo e na cultura pop
Only Murders in the Building. Já há data de lançamento para a quarta temporada. Selena Gomez, Martin Short e Steve Martin regressam a 27 de agosto na Disney+.
Euphoria. A próxima temporada da série está pensada para o primeiro trimestre de 2025, mas há relatos de vários de desafios na sua produção como mostra este artigo da The Hollywood Reporter.
Rings of Power. A série do universo de “Senhor dos Anéis” vai ter segunda temporada na Prime Video a partir de 29 de agosto.
Apple TV+. O serviço de streaming vai cortar no investimento em séries e tentar uma abordagem mais estratégica para atrair mais subscritores.
Veep. A série de comédia protagonizada por Julia-Louis Dreyfus em que representa uma Presidente dos EUA voltou a estar nas tendências depois da nomeação de Kamala Harris.
Childish Gambino. Na apresentação do seu último álbum “Bando Stone and The New World”, o artista passou pelo programa “Hot Ones” no YouTube.
San Diego Comic-Con. O maior festival de cultura pop nos EUA já começou na Califórnia e vai ter painéis com os elencos de alguns dos filmes e séries mais antecipados.
🎥 Let’s look at the trailer
Séries
“Emily in Paris” T4 (Netflix)
“Arcane” T2 (Netflix)
“Pachinko” T2 (Apple TV+)
“Bad Monkey” (Apple TV+)
Filmes
“Joker: Folie à Deux” (com Joaquin Phoenix e Lady Gaga”
“A Complete Unknown” (com Timothée Chalamet e Ella Fanning)
“Borderlands” (com Cate Blanchett, Kevin Hart e Jack Black)
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