Acho Que Vais Gostar Disto: Rir Para Não Chorar
Ninguém queria fins de semana assim, mas o melhor que podemos fazer é adaptarmo-nos às circunstâncias (e talvez começar os dias um bocadinho mais cedo). O plano para a newsletter de hoje é muito simples: fazer um roteiro de séries para que as horas em casa sejam um passeio… salvo seja. Para leres já de seguida!
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God Save The Queen
A quarta temporada de “The Crown” vai estrear na Netflix no domingo, o que torna este fim de semana a altura perfeita para ver as trinta horas disponíveis das três temporadas anteriores. Não estou com isto a dizer para veres “tudo, tudo” nestes dois dias (até porque isso pode fazer mal à saúde), mas podes dar um avanço grande na série que foi descrita como a telenovela de maior prestígio no mundo inteiro.
Ao contrário do que podes imaginar, a Rainha de Inglaterra não é imortal nem uma vampira, apesar de se manter firme no trono de uma das maiores potências do mundo, mesmo com 94 anos. E “The Crown” acompanha todo este reinado, desde 1952, ano da morte do seu pai, o Rei Jorge VI. Este momento é logo abordado no início da primeira temporada que, à data da sua estreia, foi o projeto mais caro de sempre da Netflix, custando cerca de 100 milhões de dólares. Nas últimas três temporadas da série, a história da Rainha e das pessoas à sua volta é um espelho dos principais acontecimentos do século XX e revisita eventos que marcaram para sempre Inglaterra e o mundo, de um modo geral. A verdade é que a sua longevidade levou a que a Rainha se tornasse numa das figuras mais icónicas da História Contemporânea e que fosse tópico para os mais diversos tipos de memes que circulam nas redes sociais.
Na série, poderás ver os sacrifícios que a Rainha teve de fazer em prol da monarquia, as decisões certas e erradas que tomou e a evolução da sua relação com o Príncipe Filipe que, apesar de durar há 73 ANOS, teve a sua dose de drama e de problemas que tiveram de ser ultrapassados. Terás acesso aos bastidores da Família Real com o relato de “alegadas” conspirações reais, histórias de princesas diferentes das da Disney e do modo como tradições, que se mantinham há séculos dentro das paredes do Palácio de Buckingham, tiveram de ir sendo quebradas e alteradas com o avançar dos anos.
Na minha opinião, ao longo das três temporadas, algumas das cenas mais memoráveis envolveram sempre a interação semanal da Rainha com os seus primeiros-ministros (foram 14 líderes durante os seus 68 anos de reinado). O ritual é sempre o mesmo: a monarca toca um sino no seu escritório real, um “servo” conduz o primeiro-ministro à sala, o político beija a mão da Rainha e estes discutem as decisões que tem de ser tomadas para o país. É uma espécie de chá das cinco que permite que a história se vá desenrolando e que inevitavelmente chegue a dias mais próximos de nós.
Mudam-se os tempos e os atores: Para acompanhar o envelhecimento de Isabel II, enquanto nas primeiras duas temporadas a Rainha é protagonizada pela atriz Claire Foy, na terceira e na quarta é representada pela atriz Olivia Colman. O mesmo acontece com outras personagens como o Príncipe Filipe, o Príncipe Carlos e a Princesa Margarida (irmã da Rainha).
O habitual: Como em todas as séries históricas, são tomadas algumas liberdades criativas para formar uma narrativa mais entusiasmante do que aquela que aconteceu. Lê aqui as principais diferenças entre aquilo que acontece na série e na realidade.
Aquilo em que estás a pensar: Sim, a Princesa Diana aparece precisamente a partir desta quarta temporada, juntamente com a antiga primeira-ministra inglesa Margaret Thatcher.
Uma história que promete muitos juros
Passamos de algo mais denso para a sugestão de uma série à qual poderás querer dar uma oportunidade durante o fim de semana. Falo de “Industry”, que estreou na HBO Portugal esta semana e que pode ser ideal para ti se estás à procura de uma versão Geração Z mais calminha de “O Lobo de Wall Street” e do mundo das altas finanças.
A história começa com um grupo de novos licenciados que chega ao programa de estágio da Pierpoint & Co, um prestigiado banco de investimento em Londres, onde têm de fazer tudo para impressionar os seus chefes e garantir que ficam com uma posição definitiva na empresa. Desde o início, os critérios são claramente apresentados: a escolha será feita com base em pura meritocracia, dependendo daquilo que cada um dos estagiários se disponha a fazer para atingir o principal objetivo do banco: fazer dinheiro. Vamos a alguns clichés:
Têm de ir buscar cafés e almoços para os seus chefes? Sim.
Têm de tolerar abuso por parte de colegas e até de alguns clientes? Sim.
Têm que ficar a trabalhar durante a madrugada para parecer bem? Sim.
Têm de garantir que algum dos chefes engraça com eles? Sim.
Têm que saber falar mais que do que uma língua e fazer voluntariado? Não sei, mas tinha piada.
Tudo é válido num ambiente de pressão tóxico em que todos os detalhes interessam, inclusive a fonte Helvetica 13, que tem de ser usada em todos os documentos oficiais. Todos querem ficar, desde o estagiário filho de imigrantes que sente que tem de fazer o triplo de para se destacar, à estagiária africana que falsificou o seu diploma para participar no programa ou ao jovem que gosta da vida noturna e que enfrenta problemas de dress code no trabalho. Todos em busca da presença numa indústria que promete uma vida mais abastada, mas não necessariamente melhor.
O que é isso? A série brinca com algum jargão financeiro que não temos necessariamente de compreender para perceber a história. Serve apenas para nos mostrar que as personagens aparentemente estão mesmo num banco de investimento.
Caras conhecidas: Só mesmo a diretora do primeiro episódio, Lena Dunham, responsável pela série “Girls”. De resto, a série, que terá oito episódios, é composta maioritariamente por desconhecidos.
Do teatro para o pequeno ecrã
Como o fim de semana não tem de ser só passado com um drama histórico ou rodeado de números, passamos para um enredo que pode ser considerado como uma viagem entre a tragédia e a comédia, uma tragicomédia (termo já criado e do qual tenho zero autoria). “Fleabag” foi lançada em 2016 e as duas temporadas que a compõem foram reconhecidas como parte da melhor televisão que já se fez no século XXI.
Fleabag é uma mulher, no início dos seus trintas, dona de um café que não atrai muita clientela, e que não tem uma vida social ou familiar muito fácil. A sua melhor amiga, com quem geria o café, tirou a própria vida recentemente, e aparece regularmente em flashbacks na sua memória. As pessoas mais próximas de si veem-na como uma pessoa especialista em arranjar problemas, nomeadamente a irmã Claire, com a qual tem a clássica relação de amor-ódio, e o pai que se tornou distante desde que se juntou com uma nova mulher, com a qual a filha não vai muito à bola. A confiança no amor não é muita e vai alternando entre encontros que acontecem com um único propósito e uma relação que já falhou várias vezes, mas para a qual volta sempre que se sente sozinha.
A parte da tragédia já está mais ou menos explicada. A parte cómica vem das peripécias pelas quais Fleabag passa enquanto navega por Londres, que vai comentando com a audiência, olhando diretamente para a câmara e fazendo reflexões, comentários ou monólogos internos, quase como se estivesse em cima de um palco a fazer um aparte para os espectadores. Isto não acontece por acaso, visto que a série foi criada com base numa peça da autoria de Phoebe Waller-Bridge e protagonizada pela mesma, que não só a adaptou ao pequeno ecrã como também voltou a representar a personagem principal.
As interações com o “público” acontecem em passeios pela rua, em jantares estranhos de família, em paragens de autocarro, na amizade com um padre pelo qual se apaixona, no café enquanto serve clientes e em muitas outras situações. Fleabag tem piada na forma como vê a vida, e o acesso que temos àquilo em que está a pensar dá a ideia de uma mulher perfeitamente no controlo das operações, quando, na realidade, é exatamente o oposto. No entanto, escolhe mais vezes fazer jus à expressão “rir para não chorar”.
O segredo da escrita: Fleabag era uma alcunha dada a Phoebe quando era mais nova, mas o nome na realidade nunca é usado na série. A mestria com que cada guião é feito faz com que ela seja sempre mencionada através de pronomes e que nós, enquanto audiência, nem demos por isso.
(Muito) Premiada: A segunda temporada ganhou o Emmy e o Globo de Ouro para melhor série de comédia e melhor atriz de comédia para Phoebe Waller-Bridge.
Onde ver: Para já não se avizinham mais temporadas, mas as duas que temos podes ver na Amazon Prime Video.
Créditos Finais
Celebrando DiCaprio: O ator americano celebrou 46 anos esta semana e foi uma altura tão boa como qualquer outra para a Variety fazer um ranking dos seus melhores filmes. Concordas com esta lista?
Tame Impala quase em português: Ouve aqui a cover que a banda australiana fez da música “Say It Right” da artista Nelly Furtado. Entretanto, Billie Eilish também lançou uma nova música com “Therefore I Am”.
Luz ao fundo do túnel: O Disney+ já conta com 73 milhões de utilizadores no mundo inteiro e anunciou que “WandaVision” vai ser a primeira série original da Marvel a estrear na plataforma, no dia 15 de Janeiro.
Que personagem és? Este quiz permite-te descobrir qual a personagem com que mais te assemelhas, incluindo filmes e séries.
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