Acho Que Vais Gostar Disto: Crises de Pouca-Idade
Olá! Numa semana morna no que diz respeito a estreias, na edição 40 de “Acho Que Vais Gostar Disto”, trazemos uma série aclamada que finalmente chega a Portugal, destacamos um podcast sobre histórias dos efeitos do confinamento no nosso país e terminamos a imaginar como a pandemia poderia alterar a narrativa de um filme clássico. Para leres já de seguida!
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Crises de Pouca-Idade
Se vem da BBC, costuma ser bom sinal. “Normal People” estreou em Terras de Sua Majestade a 26 de abril e nos EUA a 29 de abril, através da Hulu, mas a Portugal, só chegou esta quarta-feira, na plataforma de streaming HBO Portugal. A série irlandesa de 12 episódios é baseada na obra de Sally Rooney com o mesmo nome e tornou-se rapidamente num sucesso quando foi lançada, tendo sido, de uma forma generalizada, elogiada pela construção da história e pela performance dos atores principais, como indicam os ratings do Rotten Tomatoes de 90% e do Metacritic de 84.
A série aborda a relação de dois jovens que não podiam ter vidas mais diferentes. Marianne, representada por Daisy Edgar-Jones, vem de uma família com dinheiro, com a qual tem uma péssima relação. Apesar da sua inteligência e feitio irreverente, na escola, acaba por não ter muitos amigos e estar mais por sua conta. Connell, protagonizado por Paul Mescal, é um rapaz popular, um grande atleta, tão inteligente como Marianne, mas vem de um contexto mais pobre, tendo sido criado pela sua mãe solteira, que trabalha como empregada em casa de Marianne.
E é precisamente através do trabalho da sua mãe que os dois se conhecem e começam uma relação amorosa secreta, que Connell insiste em esconder por ter vergonha de que os seus amigos saibam. Entre o liceu e a mesma universidade para o qual os dois acabam por ir estudar, Connell e Marianne passam por altos e baixos, por sucessos e falhanços e por relações com outras pessoas, sem nunca mudarem o que sentem um pelo outro.
Contudo, esta não é a típica história de duas pessoas que vêm de mundos completamente opostos, que se encontram e derrubam todos os obstáculos para viverem felizes para sempre. Em “Normal People”, há espaço para problemas de identidade e intimidade, para dificuldades de transição para uma nova fase e para “crises de pouca-idade” sobre como será o futuro.
Isto fez-me lembrar: os mais atentos poderão reparar que a atriz que representa Marianne é igual à atriz Anne Hathaway (sem espaço para discussão). O que me levou a recordar um filme com a atriz americana chamado “One Day”, também britânico, na qual acompanhamos a evolução da relação de dois amigos coloridos, ao longo de sete anos, sempre no mesmo dia. Para veres a seguir à série.
Nomeado para Emmys: mais precisamente quatro, entre eles, o de Melhor Ator para Paul Mescal, o de Melhor Realização e o de Melhor Argumento.
Apanha-me se puderes, com distanciamento social
À falta de grandes estreias de filmes, quer nas plataformas de streaming, quer nas vazias salas de cinema, dei por mim a pensar no efeito que a pandemia podia ter em alguns filmes. Não estou a falar de filmes sobre uma pandemia em específico, como é o caso de “Contágio” (que se tornou um sucesso durante o confinamento), mas sim do modo como a pandemia poderia mudar fundamentalmente o argumento de alguns filmes, tornando as motivações ou os entraves colocados às personagens mais complexos.
Fiz este exercício com o filme “Catch Me If You Can” (“Apanha-me Se Puderes”, em português), realizado por Steven Spielberg e protagonizado por Leonardo DiCaprio e por Tom Hanks. Passado nos anos 60, conta a história real de Frank Abagnale Jr (DiCaprio) que, com apenas 19 anos, se tornou num dos homens mais procurados pelo FBI, por fraude de cheques, que foi falsificando enquanto se fazia passar, em diferentes momentos, por um piloto de aviões, por um médico num hospital no estado de Georgia e por um advogado no Louisiana.
Aqui ficam alguns efeitos que a pandemia poderia ter na narrativa:
- A aventura começa quando Frank fica traumatizado com o divórcio dos pais e decide que a maneira de os voltar a juntar é resolvendo os seus problemas financeiros através dos cheques falsos. Será que em quarentena o processo de separação era assim tão fácil?
- Como estudante, Frank estaria a ter aulas em casa, com trabalhos extra e sem muita liberdade de andar de um lado para o outro. Seria assim tão fácil escapar e desaparecer?
- Como eram os anos 60, talvez o vírus fosse tratado apenas como uma gripe, mas se, por acaso, houvesse um controlo de fronteiras e aviões, poderia ele andar de um lado para o outro livremente como um piloto falso?
- Teria ele tempo para começar uma relação amorosa enquanto doutor num hospital, com tantos doentes a chegar, de hora a hora, e sem saber exatamente por onde é que a enfermeira com quem se envolve (protagonizada por Amy Adams) andou?
- Como seria perseguir um fugitivo que não sabemos exatamente por onde andou e que nos poderá possivelmente infetar?
São pequenas coisas que podiam mudar o rumo dos acontecimentos e que podiam tornar a película em algo mais peculiar. Estou aberto a mais sugestões de alterações no filme.
Revê o filme: está disponível na Netflix e podes relembrá-lo neste trailer.
Já fizeste este exercício com outros filmes? Partilha comigo respondendo a esta newsletter.
Histórias de como o confinamento mudou Portugal
É fácil sermos levados a pensar que o pior já passou. Voltámos a ir a restaurantes, voltámos a estar em esplanadas com amigos, voltámos a poder andar de um lado para o outro sem restrições de circulação. No entanto, há um rasto deixado pelo confinamento que mudou a vida de pessoas, de empresas e de lugares que, de um momento para o outro, viram aquilo que davam por garantido desaparecer.
São estas histórias que levaram Margarida Alpuim, jornalista do SAPO24, numa viagem de norte a sul do país, que deu origem à série de áudio e podcast “O que se ouve quando o país pára”. Nela, além de acompanharmos o que aconteceu, também descobrimos os sons que desapareceram, os sons que passaram a ser a regra e os silêncios dramáticos que simbolizam a busca ansiosa por novas alternativas e opções.
O primeiro episódio estreia esta sexta-feira no SAPO24, que, de semana a semana, publicará uma nova história sobre o modo como a pandemia mudou Portugal. Cada episódio estará também disponível nas plataformas de podcasts habituais.
Para conheceres melhor: os podcasts também têm direito a trailer, por isso, ouve aqui uma introdução à série, nas palavras da Margarida.
O primeiro episódio: Já está disponível aqui.
Créditos Finais
Quase 40 anos depois: a música “In The Air Tonight” de Phil Collins continua a conseguir surpreender jovens como nos mostra o vídeo destes youtubers que se tornou viral esta semana.
À boleia de Anderson Paak, Miley Cyrus e Drake: os artistas lançaram, respetivamente, “Cut Em In”, “Midnight Sky” e “Laugh Now Cry Later”.
“Content is King”: já ouviste esta frase repetida por milhões de marketeers, mas se calhar nunca ouviste falar do seu autor. É atribuída a Sumner Redstone, um magnata do entretenimento americano cuja empresa é dona da Viacom, da CBS e dos estúdios da Paramount. Faleceu esta semana aos 97 anos.
Como gravar uma série em pandemia: a Netflix, a HBO e a NBC começaram a trabalhar logo em conteúdos originais, onde em muitos casos as casas dos atores tiveram de ser transformadas nos estúdios de produção. Sabe mais como neste artigo do New York Times.
Já podes subscrever o Disney+: a plataforma só chega a Portugal no dia 15 de setembro, mas se fizeres a subscrição anual até ao dia anterior, terás um desconto de 10 euros. Se estiveres interessado, poderás fazê-lo aqui.
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