Criada por Alec Berg e Bill Hader, “Barry” é a definição de “comédia negra”. E com os dois primeiros episódios da 4.ª e última temporada disponíveis na HBO Max e a história a chegar ao fim, achámos por bem escrever um bocadinho sobre esta série que talvez tenha menos atenção do que a que realmente merece.
“Barry” conta a história de Barry Berkman (Bill Hader), um ex-fuzileiro do Midwest americano que virou assassino a soldo profissional barato e que está desiludido com a vida — mas que ganha alento depois de perceber que a representação pode ajudá-lo a lidar com as suas emoções e decide deixar de matar para ser ator.
A crítica tem adorado a série praticamente desde o Dia 1. Porém, não é o enredo que acata com os maiores elogios: é a subtileza e inteligência do humor negro do guião que torna a série hilariante e arrebatadora ao mesmo tempo. A Empire resume da melhor maneira esta ideia: “Barry sombria. Barry é brutal. Claro, tem as suas piadas. Mas o seu humor é mais negro do que o gatilho da pistola do seu protagonista. (...) O resultado é a meditação televisiva mais contundente sobre a violência americana desde Breaking Bad”.
O mesmo artigo também explica como a série transformou a carreira de Hader. Antes de “Barry”, Hader era um journeyman da comédia muito apreciado nos Estados Unidos, sendo mais conhecido pelos bons anos que passou no “Saturday Night Live”, mas também por fazer papéis secundários em comédias como “Forgetting Sarah Marshall” ou “Knocked Up”. No pós-”Barry” e depois de muitas nomeações e duas vitórias nos Emmy, a sua imagem na indústria mudou e é tido como um dos autores de referência atuais da televisão. É que Hader escreve, protagoniza e realiza muitos dos episódios da série — e já foi nomeado em todas essas categorias nos Emmy.
Depois, há todo um leque de questões em torno da moralidade (a que já assistimos, por exemplo, em “Dexter”): devemos sentir empatia pela aparente depressão e estado emocional de alguém que mata outras pessoas por profissão? O protagonista é ou não o maior dos vilões, como os episódios finais da 3.ª temporada parecem sugerir? Apesar desta toada ser algo a que já assistimos antes, este é mesmo um dos seus pontos fortes, pois enquanto espetadores damos por nós a perguntar se devemos ou não sentir aquela empatia por um assassino só porque este está numa luta constante contra a culpa que sente pelo que fez (e faz) e o seu desejo em mudar.
E isto acontece porque Barry num minuto demonstra a compaixão de uma pedra, mas no seguinte está frágil como qualquer outro ser humano (apesar de assassino tem dúvidas existenciais e não sabe lidar com as suas emoções). Assim como num segundo coloca questões tipo se merece ou não um arco de redenção pelos crimes do passado e parece fazer por isso, noutro toma uma decisão extremamente egoísta que nos faz pensar se não estamos perante um dos vilões mais cruéis de toda esta história (e há por lá bastante gente má).
Nota final. “Barry” é realmente uma série muito boa e os atores estão em elevado plano. A escrita é perspicaz, inteligente e centra as personagens em enredos complexos, repletos de dúvidas e questões morais — ideais para quem está à procura de uma boa história. A somar a tudo isto, há ainda que mencionar a parte técnica, em que a realização exímia de alguns episódios e de algumas cenas em particular (a perseguição de mota no Episódio 6 da 3.ª Temporada é só... qualquer coisa!) são apenas a cereja no topo do bolo.
Podcast Acho Que Vais Gostar Disto
Podes ouvir este episódio do podcast no Spotify, na Apple Podcasts ou na Google Podcasts.
O último episódio do podcast Acho Que Vais Gostar Disto tem como tema principal o filme “Air”, que estreou na semana passada nas salas portuguesas. Realizado por Ben Affleck e protagonizado por Matt Damon (juntamente uma fileira de excelentes atores secundários como Viola Davis, Jason Bateman ou Chris Tucker), explora o contrato revolucionário assinado em 1984 entre uma estrela da NBA em ascensão chamada Michael Jordan e a divisão de basquetebol da Nike.
Créditos finais
O que se passou no mundo da cultura pop e na Internet
Jonathan Majors. Depois de o ator de Creed III ter sido detido - e depois libertado - devido a acusações de violência doméstica em março, agora surgiu a notícia de que foi deixado pela agência que o representava. (Deadline)
Morangos com Açúcar. As gravações da nova série já arrancaram. Quem tiver curiosidade, pode espreitar os bastidores do primeiro dia de gravações! (TVI Ficção).
Sharon Stone. A atriz vai trocar Hollywood por Portugal? Há quem sugira que sim. (SIC)
Daniela Ruah. A atriz voltou ao Alta Definição, agora como mãe e apresentadora da nova série da SIC “Os Traidores”. (Expresso)
Deadpool 3. Hugh Jackman volta ao papel de Wolverine, mas em modo "como nunca o vimos antes". Palavra de Reynolds. (ET Canada)
Chris Cornell. Os Soundgarden vão lançar as últimas canções gravadas pelo músico depois de chegarem a acordo com a viúva Beckey Cornell. (Instagram)
Duna: Parte 2. Rebecca Ferguson (Lady Jessica) acredita que o segundo filme vai ser melhor do que o primeiro. (GamesRadar)
M. Son of the Century. O realizador Joe Wright ("Darkest Hour") vai realizar uma minissérie sobre a ascensão ao poder de Benito Mussolini. (Variety)
Let’s Look at the trailer
The Light We Cannot See (Netflix). Minisérie que adapta o romance homólogo de Anthony Doerr, vencedor do Prémio Pulitzer de 2014. É do realizador Shawn Levy ("Free Guy: Herói Improvável") e conta com Hugh Laurie (o Dr. House) e Mark Ruffalo no elenco.
The Idol (HBO Max). A nova série de Sam Levinson protagonizada por The Weeknd tem um novo teaser e já tem data de estreia: 4 de junho.
A Pequena Sereia (Cinemas). No novo teaser, Halle Bailey (Ariel) canta uma das músicas mais conhecidas do filme original.
Sweet Tooth (Netflix). O novo trailer revela o que aí vem na segunda temporada. Estreia a 27 de abril.
Tens recomendações de coisas de que nós podíamos gostar? Ou uma review de um dos conteúdos de que falámos? Envia para vaisgostardisto@madremedia.pt