O Rambo saiu da prisão para ser o Rei do crime
A newsletter de hoje é dedicada a um dos maiores ícones de Hollywood e que recentemente se estreou no pequeno ecrã. Em “Tulsa King”, Sylvester Stallone dá vida a um capo da máfia de Nova Iorque saído em liberdade após cumprir uma sentença de 25 anos — e que está pronto para ser o Rei do crime no meio do nenhures.
Alguém te enviou esta newsletter? Podes subscrevê-la aqui.
Rei do crime e do nenhures
No filme "Tudo Bons Rapazes / Goodfellas" (1990) de Scorsese, numa das cenas mais emblemáticas (“You broke your cherry!”) desta ode cinematográfica à máfia e ao bom cinema, o adolescente Henry Hill (a versão mais nova da personagem de Ray Liotta) vê-se a braços com uma receção entusiástica de Robert De Niro no tribunal depois de ter sido apanhado a contornar a lei pela primeira vez. Além de se lhe ver enfiado no bolso da camisa um singelo e gordo maço de notas como “presente pela graduação”, recebeu rasgados elogios e os parabéns. Interrogando-se do porquê de tudo aquilo, o gangster Jimmy responde a Henry: “Não lhes disseste nada, eles não têm nada”, comentário a que rapidamente anexou duas importantes “lições de vida”. “Nunca denuncies os teus amigos e mantém a boca sempre fechada”. Noutros termos, saber não dar com a língua nos dentes é uma virtude apreciada.
Ora, este parágrafo de introdução serve apenas para contextualizar o que se passou com o protagonista de “Tulsa King”, série original da Paramount+ e que em Portugal está disponível na SkyShowtime. Apesar de apanhado e condenado a uma sentença de 25 anos por homicídio para safar o Chefe da Família à qual pertence, Dwight Manfredi (Stallone), conhecido como “O General”, permaneceu calado durante as mais de duas décadas que viveu numa cela. Entre as quatro perdes minúsculas, leu muitos livros (Faust, Shakespeare, Robert Green) e escreveu má poesia, mas levou a cabo algo muito mais importante: respeitou o código de honra e não bufou sobre nada nem de ninguém. Porém, quando saiu da prisão, ao contrário de Henry, não teve uma receção calorosa nem palmadinhas nas costas.
Manfredi queria ser recompensado pelas perdas do silêncio (a mulher divorciou-se dele, a filha não lhe fala). No mínimo, uma posição digna, uma compensação que seja condigna com o seu sacrifício. Contudo, aquilo que o “Boss” lhe propõe é exatamente o oposto: ir para a deserto dos cowboys no meio do nenhures e começar um império criminoso por lá. Na sua ótica, o facto de o obrigarem a ir para um novo destino é um desrespeito pelos anos de serviço à família. Ainda assim, Stallone aceita o fado traçado e parte para aquela parte remota e esquecida para reconstruir a sua vida no meio da poeira de Tulsa, no Oklahoma, no interior rural da América.
O que se segue é a sua aprendizagem de uma nova realidade enquanto aplica velhos costumes. Concretamente, assistimos a exemplos de:
Nova realidade: Ter que aprender a lidar com uma sociedade que vive rodeada de tecnologia tipo óculos VR ou simplesmente ter de aprender o que é um iPhone, apps no geral ou como apanhar um “Uber”.
Velho costume: Assim que avista uma loja de erva legal, o ex-capo marca o ritmo do que aí vem através da brutalidade gangster clássica pelo controlo e poder. Crime é crime. Agora ou há 25 anos.
Co-criada por Terence Winter (responsável por “Boardwalk Empire” e muitos episódios de “Os Sopranos”) e Taylor Sheridan (criador de “Yellowstone”), além de drama, máfia e violência, “Tulsa King” oferece outro elemento improvável: humor. Muito e do bom. Stallone já provou que consegue ser engraçado. Mas com o homem que escreveu “O Lobo de Wall Street” (Winter) a dar-lhe o material, Sly está tão-somente hilariante. Especialmente nas cenas que revelam as suas dificuldades em perceber um mundo que vive com demasiadas aplicações móveis, tecnologia ou erva legal.
Depois, é a tal coisa: Stallone até pode não ser hoje uma figura relevante na indústria como noutras décadas. A realidade, contudo, é que tem sido uma presença importante no mundo do entretenimento durante mais de 40 anos e vê-lo num papel em que assenta na perfeição traz algo mais do que nostalgia: traz satisfação. Porque independentemente de os seus filmes dizerem muito ou pouco às pessoas, é inegável que inspirou muitas outras a ter vontade de singrar num mundo difícil — o de Hollywood ou da vida, especialmente com Rocky Balboa, que iluminou o acreditar no underdog e no impossível, tornando-se numa parte bem-amada da cultura pop.
Por fim, a premissa da série e as pessoas envolvidas sugerem que estamos perante algo repleto de masculinidade. E na verdade estamos, que é coisa presente. Todavia, tal não invalida que o forte seja a comédia, ainda que talvez não fosse esse o intuito inicial dos seus criadores. Como reza esta crítica da Empire, ainda não se consegue dizer se “Tulsa King” pode ou não alcançar o sucesso dos trabalhos recentes de Taylor Sheridan (o universo “Yellowstone parece estar para durar e ninguém pode jurar a pé juntos que os caminhos de Kevin Costner e Stallone não se vão cruzar num episódio crossover) ou os sucessos passados de Terence Winter. No entanto, para já, há uma certeza: “Tulsa King” promete ser uma excelente escolha. Tanto para os fãs da comédia como para os do drama da máfia.
Os primeiros quatro episódios já estão disponíveis na SkyShowtime
Podcast Acho Que Vais Gostar Disto
Tiago Bettencourt é um dos mais conhecidos músicos portugueses dos últimos 20 anos. No final do ano vai passar pela Casa da Música no Porto e pelo Coliseu de Lisboa para, com a Orquestra Clássica do Centro, celebrar uma carreira que conta já com seis álbuns a solo (aos quais se juntam os dois com os Toranja).
Numa conversa que passou pelos duas últimas décadas da sua carreira, João Dinis, Mariana Santos e Miguel Magalhães tiveram ainda tempo para conversar sobre as diferenças entre The Weeknd e Michael Jackson, o problema da Internet e da geração Z e convidar o músico para ter uma rubrica fixa no podcast (sim, é verdade).
Ouve o episódio no Spotify, na Apple Podcasts ou na Google Podcasts.
Adivinhem quem vai à Comic Con!
A convenção Comic Con Portugal, dedicada à cultura pop e ao entretenimento, vai ter início na quinta-feira no Parque das Nações, em Lisboa. O evento decorre até domingo e vão existir vários espaços dedicados à divulgação de conteúdos de cinema, televisão, ‘cosplay’, videojogos ou literatura.
E vocês sabem quem é que vai andar por lá a falar sobre filmes de Natal? Nomeadamente no sábado, dia 10 de dezembro, pelas 18:10, no palco Live Stage by ePopCulture? O João Dinis, o Miguel Magalhães e a Mariana Santos, pois claro!
Senão poderes aparecer, não te preocupes. Vamos disponibilizar o episódio ao vivo do podcast no Spotify e na Apple Podcasts no dia 23 de dezembro!
Marca na tua agenda, aparece e vem dizer-nos um olá! Mas antes fala connosco através das nossas redes sociais e diz-nos quais são os filmes que devemos falar.
Créditos finais
Listas dos 💯
Os melhores 100 filmes de sempre
A revista britânica “Sight and Sound”, de 10 em 10 anos, pergunta aos críticos quais são os melhores filmes de sempre (sem ordem específica). Da última vez, em 2012, foi “Vertigo”, de Hitchcock, a liderar a lista. Agora, é “Jeanne Dielman, 23 Quai du Commerce, 1080 Bruxelles”, da realizadora belga Chantal Akerman. Vê a lista completa aqui.
As melhores 100 canções de 2022
A Rolling Stone fez uma lista centenária sobre o melhor que se fez musicalmente neste ano. De Taylor Swift a Beyoncé, do lo-fi à pop, muitos são os artistas que figuram nesta lista. Podes ouvir a lista no Spotify aqui e ver o artigo aqui.
O que não podes perder na cultura pop 👇
Stranger Things. David Harbour (Jim Hopper) estava cético quanto ao sucesso da série. “Isto é fantástico! Tenho a certeza de que ninguém vai ver”. (IndieWire)
Morreu Kirstie Alley. A mãe do bebé (voz de Bruce Willis) de "Olha Quem Fala" morreu aos 71 anos. (SAPO24)
Streaming & Cinema. Um filme estar nos dois sítios ao mesmo tempo é uma coisa má? Rian Johnson (“Glass Onion”, da Netflix) acredita que não. (Insider)
YouTube Streamy Awards. MrBeast ganhou o prémio de melhor criador. (The Hollywood Reporter)
Avatar 2 & The Weekend. The Weeknd pode ser o maior chamariz da banda sonora da antecipada sequela de James Cameron. (Variety)
Tell Me Lies / Mente-me (Disney+). A série baseada no romance homónimo de Carola Lovering, que segue a relação tóxica e intoxicante de Lucy e Stephen, foi renovada para uma segunda temporada. (Variety)
The White Lotus. Uma cena em particular da segunda temporada, que envolve órgãos genitais, deixou a Internet num alvoroço: era ou não real? Theo James, o ator no olho do furacão, endereça a questão. (Variety)
BIFA Awards. Depois de ter conquistado Cannes, “Aftersun” dominou os prémios do cinema independente britânico. A história é protagonizada por Paul Mescal, ator de “Normal People”, apontado aos Óscares. Facto curioso: os galardões foram entregues por Daisy Edgar-Jones, a cara metade de Mescal na série que os catapultou para o estrelato. (The Hollywood Reporter)
🎥 Let’s Look at the trailer
The Last of Us (HBO Max)
É uma das séries mais aguardadas de 2023 e já não é preciso esperar muito para o seu lançamento: dia 16 de janeiro. Baseada num dos videojogos mais acarinhados de sempre, a história segue Joel Miller (Pedro Pascal) e a adolescente Ellie (Bella Ramsey) num futuro pós-apocalíptico em que esporos tóxicos de um fungo (inspirado num real e que existe mesmo!) transformaram a maior parte das pessoas em criaturas meio zombies/monstros. O criador Neil Druckmann vai realizar pelo menos um episódio e a série é adaptada por Craig Mazin, responsável por “Chernobyl”. Ao todo serão 9 episódios, inspirados no primeiro jogo, incluindo o DLC “Left Behind”. Este é o primeiro trailer oficial.
Transformers: Rise of the Beasts (Cinema)
Depois de cinco filmes e muitos milhões, Michael Bay passou a tocha dos robôs a Travis Knight, que realizou “Bumblebee”, numa espécie de reboot experimental que recuou até aos anos 80 — e provou que havia futuro para a franquia. Agora, na sua sequela, a sair no verão de 2023, há toda uma nova timeline e a saga inspira-se nos anos 90 para apresentar os Maximals e os Terrorcons. Pete Davidson, Michelle Yeoh, Peter Dinklage, Ron Perlman emprestam as vozes. Se correr bem na bilheteira, esperam-se mais aventuras dos Autobots.
Alice in Borderland (Netflix)
Baseada na manga de Haro Aso, esta série causou sensação em 2020 quando estreou na Netflix (ficou em 1# em mais de 70 países). Ao misturar ação de sobrevivência, jogos e violência, recebeu comparações com “Battle Royale” e “Saw”. A segunda temporada chega à plataforma no dia 22 de dezembro.
The Witcher: Blood Origin (Netflix)
Esta prequela recua 1.200 anos antes dos acontecimentos de “The Witcher” e de Geralt, na chamada Era Dourada, em que sete estranhos se juntam para combater um império que se diz imparável. Michelle Yeoh (“Tudo em Todo o Lado ao Mesmo Tempo” e “O Tigre e o Dragão”) protagoniza. Estreia no dia 25 de dezembro.
FICHA TÉCNICA
Produção MadreMedia
Newsletter escrita por
Abílio dos Reis, Mariana Santos, Miguel Magalhães e João Dinis
Grafismos
Diogo Gomes, Rodrigo Mendes
🖋️ Tens recomendações de coisas de que nós podíamos gostar? Ou uma review de um dos conteúdos de que falámos?
Envia para vaisgostardisto@madremedia.pt