🤠 Yellowstone: “Succession” no Wild West cowboy
O foco da edição da newsletter de hoje está apontado para “Yellowstone”, série disponível por cá na SkyShowtime, que relata a história da família Dutton e do seu império. Co-criada por Taylor Sheridan (“Sicario” e “High Water”), há quem a veja como a versão de “Succession” do mundo cowboy. Mas será que é?
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"Succession" no Wild West cowboy
Cena: Conversa entre alunos e a nova professora, que acaba de chegar.
Local: De dia, sala de aula, numa faculdade.
Aluna: É a substituta?
Professora: Não, sou a professora.
Aluno: Vi um vídeo no Pornhub e era assim que começava.
[risos na sala]
Professora: Misoginia, que inovador. Se lhe juntares uma piada de índios sobre a Pocahontas, acertas na aposta tripla.
Aluno: Já que fala nisso…
Professora: Como te chamas?
Aluno: Trent.
Professora: Consegues dizer-me a definição de poder, Trent?
Aluno: [Revira os olhos, não dá resposta]
Professora: É a capacidade de direcionar ou influenciar o comportamento de eventos ou de outros. É isso que eu tenho. Posso expulsar-te desta cadeira e chumbar-te ou posso mandar-te ao reitor por violar o código do aluno. Tudo isto são coisas que podem mexer com o curso da tua vida. Isto é poder. E tu não tens nenhum.
Este é um diálogo que envolve uma das personagens e elucida bem ao que se vai quando se galopa pelas impressionantes paisagens neo-Western de "Yellowstone". No entanto, o diálogo em causa, que na verdade é um pequeno excerto de um episódio, acarreta uma curiosidade: está a ser amplamente difundido e replicado nas redes sociais e nem sequer envolve o cowboy principal da história. (Por “amplamente partilhado”, falamos de uma Short publicada no YouTube há três meses, com 82 milhões de visualizações.) O que se percebe. Afinal, na sua essência, a série é sobre poder.
Mas é também sobre legado e família — e do que abdicamos, do que somos, pelo amor que nutrimos pelos nossos. Os trilhos do rancho dos Dutton muitas vezes apontam em direção ao abismo e as personagens sabem-no tão bem quanto o espectador, que vê e percebe a sua angústia quando recusam (ou não conseguem) mudar de direção. Sabem que é errado, que alguém vai sofrer com a decisão de irem por ali, que vai dar asneira. E, no entanto, não obstante o grau moral implicado, fazem-no. Pelo pai, pelo irmão de sangue, pela irmã, pelo irmão dos estábulos, pela irmandade criada por quem esticou a mão quando mais ninguém o fez. Pela família de sangue, pela família de adopção.
Porém, falar de “Yellowstone” é falar de Taylor Sheridan, ator tornado argumentista-realizador que atualmente detém um poder - lá está - quase ímpar na indústria. Conhecido por ter interpretado o delegado da polícia David Hale em “Sons of Anarchy”, saltou para a ribalta depois de escrever “Sicario” (2015) e “Hell or High Water” (2016) — este último contou com três nomeações para os Óscares, incluindo para Melhor Filme. Em 2017, ocupou pela primeira vez a cadeira da realização ao assumir as rédeas (e argumento) de “Wind River”, um indie com Jeremy Renner e Elizabeth Olsen que estreou em Sundance, ganhou prémios em Cannes e que conta com uma taxa de aprovação de 88% no Rotten Tomatoes. Os três filmes, ainda que contem histórias independentes, fazem parte da sua trilogia sobre “a fronteira americana moderna”.
Até que chegamos a 2018, ano em que estreia a série que co-criou com John Linson e que dá tema a esta newsletter.
Em “Yellowstone”, Sheridan continua a expandir a sua visão das fronteiras dos EUA e a tocar em temas como a exploração dos povos indígenas, a ocupação de território e a mostrar o mundo moderno dos cowboys. Neste caso em particular, fá-lo pelos milhares de hectares da família Dutton sitos no Estado do Montana, ali na fronteira com o Canadá. Encabeçada pelo patriarca John Dutton (um Kevin Costner a ganhar 500 mil dólares por episódio), controla o maior rancho contíguo da América e enfrenta batalhas políticas e escaramuças com o líder da reserva índia de Broken Rock e promotores imobiliários do Texas que querem construir hotéis nas terras que já pertenciam aos seus antepassados.
O pior, parece, é mesmo controlar as ações dos três filhos: Jamie (Wes Bentley) é o aparente natural “sucessor” e o mais “normal” de todos, visto que é um advogado a piscar o olho à política; Cory (Luke Grimes) é o mais tranquilo, mas é também um veterano de guerra que prefere ignorar a existência do pai e passar os seus dias a cuidar da sua esposa de ascendência indigena (é a professora do início deste texto) e do seu filho de sete anos. Por último, temos Beth (Kelly Reilly), quiçá a personagem mais interessante e inteligente da série, que é a filha passivo-agressiva e alcóolica funcional que não tem qualquer problema em meter os homens, num mundo de homens, no sítio.
Feitios à parte, existem, claro, comparações em “Yellowstone”. Há quem diga que nesta história moderna de cowboys se identificam semelhanças entre as vidas de John Dutton e de Tony Soprano, uma vez que as idiossincrasias de ambos e ameaças que os afligem surgem não só dentro (da própria família), mas também do que os rodeia (rivais demasiado ambiciosos). Inegável, todavia, será comparar a parte dos homicídios, em que muitos intervenientes acabam na “Estação do Comboio” por simplesmente irem contra o status quo dos Dutton, qual máfia do Gado. Outra paridade televisiva frequente, por conter tricas e abusos emocionais entre irmãos e pai, que vergam a lei quando isso beneficia o negócio da família, é com “Succession”, numa espécie de Sucessão do Wild West Moderno, já que o líder Dutton quer preparar o pós-vida e envolver os filhos nas decisões que envolvem o rancho — e o legado da família.
Sucesso e sequelas
Nos EUA, a série é um fenómeno que só fica atrás da liga de futebol americano (NFL) ao nível de audiências em televisão por cabo (a Variety apelida mesmo Sheridan como o “novo Rei do primetime”). E para capitalizar este sucesso ao máximo, a Paramount criou o Universo Yellowstone, que, para já, se rege através de duas prequelas:
“1883” - com Sam Elliot e Faith Hill, que mostra como a família Dutton tentou escapar à pobreza. A primeira temporada já saiu toda;
“1923” - série que vai estrear nos EUA em dezembro, com Harrison Ford e Helen Mirren, que se vai focar na geração Dutton que se instalou num estado do Montana Sem Lei e batalhou contra a seca e a Grande Depressão.
Podcast Acho Que Vais Gostar Disto
Primeiro, demos conta da estreia da 5.ª Temporada de “The Crown” num artigo, em que abordámos o que há de novo e o que se escreveu durante o período de antecipação à sua chegada, nomeadamente sobre a polémica que se instalou nos media ingleses por mergulhar diretamente no badalado divórcio da Princesa Diana com o Príncipe Carlos. Depois, no podcast, o João Dinis e a Mariana Santos, tentando ser justos, deram a volta à questão, tentando perceber se as críticas eram ou não justificadas.
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Créditos finais
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FICHA TÉCNICA
Produção MadreMedia
Newsletter escrita por
Abílio dos Reis, Mariana Santos, Miguel Magalhães e João Dinis
Grafismos
Diogo Gomes, Rodrigo Mendes
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