Shantaram, uma história verídica mais ou menos
Esta semana, o destaque da nossa newsletter vai para “Shantaram”, série estreada há poucos dias na Apple TV+. Baseada no livro homónimo de Gregory David Roberts, adapta uma história com factos reais que parece saída de um guião de Hollywood. Charlie Hunnam, estrela de “Sons of Anarchy”, protagoniza esta fábula literária sobre um ladrão de bancos que foge de uma prisão australiana para encontrar a redenção numa aventura épica pela Índia — uma que envolve amor, amizade, corrupção, máfia e bairros de lata.
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Uma incrível história verídica, mas só mais ou menos
“A aventura mais surpreendente que alguma vez já leu”. Esta frase está não só no topo da capa da versão portuguesa do livro de Gregory David Roberts, como é também aquela que se destaca assim que procuramos por “Shantaram” num conhecido site de venda de livros nacional. E ainda que tudo isto soe a discurso de marketing do mercado livreiro, a verdade é que estamos perante um fenómeno literário a nível mundial (é um bestseller que vendeu entre seis a sete milhões de cópias) que faz parte do Plano Nacional de Leitura.
Publicado originalmente em 2003, o livro retrata uma história que mistura fugas de prisão, corrupção, política e o ambiente frenético e vibrante de Mumbai dos anos 80. A sua popularidade chegou a ser de tal ordem, que, por alturas do seu lançamento, não havia hostel na Índia que não tivesse no lobby um exemplar. Assim como já houve várias tentativas para ser adaptado no cinema, em que nomes bem conhecidos (Russell Crowe, Johnny Depp, Joel Edgerton) chegaram a estar ligados ao projeto. Todavia, somente quase vinte anos depois é que o amado conteúdo das páginas (e vida) de Roberts iria ganhar vida em imagens. Não para a tela grande da sala escura, mas para o pequeno ecrã do streaming.
Em “Shantaram”, tanto na série como no livro, seguimos a história de Lin, um ladrão de bancos que fugiu de uma prisão australiana para acabar nas ruas fervilhantes de Mumbai (ou Bombaim, já que é pelo nome antigo que a história trata a Cidade Dourada, ela própria uma personagem de luzes e vida) à procura de um momento de redenção. Na série, Lin (que não é o nome verdadeiro, mas o nome que consta no passaporte falso) é interpretado pelo ator britânico Charlie Hunnam, que revelou em entrevista que este é um projeto-paixão que perseguiu obsessivamente durante anos.
A história que dá mote ao livro é baseada na vida de Gregory David Roberts, mas não é uma autobiografia típica ou no sentido lato do termo. Quem o diz é o próprio autor, que explica que escreveu o livro como sendo um romance tendo por base factos verídicos. E os factos verídicos surgem da sua experiência na Índia, onde viveu durante oito anos, embora esse não fosse o plano.
Inicialmente, Roberts contava ficar apenas dois dias em Mumbai antes de seguir viagem para a Alemanha (onde foi apanhado mais tarde). A realidade é que acabou por ficar lá durante quase dez anos. Desse período, 18 meses foram passados em bairros de lata, onde abriu uma espécie de "centro de saúde" — mas só até ser arrastado para o mundo traiçoeiro do crime organizado. Esta parte é retratada no livro e na série, mas com "acrescentos" ao que realmente aconteceu.
Porque, de facto, existem diálogos, personagens e situações fascinantes em ambos os casos; mas é tudo narração fictícia, ainda que seja baseada em experiências reais. Portanto, estamos perante uma série levemente baseada num romance que é baseado levemente na vida do autor. Ainda assim, na opinião de Roberts, não deixa de ser uma aventura digna e merecedora de ser contada. E a julgar pela quantidade de livros vendidos, é capaz de ter alguma razão.
"Shantaram", a série, começa no ano de 1980 e abre com a ousada fuga de Dale Conti (assim é o nome verdadeiro do personagem de Charlie Hunnam) de uma prisão, em plena luz do dia. Sem papéis legais ou hipótese de permanecer no país Natal a contas com o novo estatuto de foragido sem-lei, Conti aterra em Bombaim para ter uma experiência que lhe vai mudar a vida. E isto acontece muito por culpa das pessoas que conhece: seja pela amizade que nutre pelo recém-melhor amigo indiano Prabhu, seja pela atração que sente pelo enigma que é a sedutora Karla (Antonia Desplat, filha do famoso e oscarizado compositor francês).
Como explica esta crítica, rapidamente aprendemos que, independentemente dos crimes e defeitos, Lin / Dale não é tipo mau. É só alguém inteligente que teve um futuro promissor, mas algures pelo caminho da vida se deixou descarrilar pelo comboio do desespero e da heroína — sabemos isto através de flashbacks que abrem a maioria dos episódios, nos quais vemos os seus erros, incluindo aquele roubo falhado que o levou para a prisão na primeira instância. Porém, a moral da história é que tem muito para viver e muito para compensar.
Por falar em críticas, o que se escreve maioritariamente sobre este original da Apple TV+ é que estamos perante uma série sobre a qual não dá para dizer que é “má”. As personagens são complexas, os atores estão todos a bom nível (se esquecermos o sotaque australiano de Hunnam, segundo os media locais) e a história mantém-se fresca e intrigante durante os 12 episódios que compõem a primeira temporada (esperam-se mais). Assim como é facilmente perceptível que está bem executada a nível técnico.
Porém, parece ser unânime quando se fala em termos de duração, com muitas vozes a escreverem que a série se deixa arrastar demasiado e que não eram precisos estes minutos todos para o arco narrativo das personagens. No entanto, esta podia muito bem ser uma crítica à Era atual do streaming e não somente a "Shantaram" — afinal, esta está longe de ser a única que nos últimos tempos se prolonga mais do que devia.
Os três primeiros episódios de "Shantaram" já estão disponíveis para visionameno na Apple TV+.
Podcast Acho Que Vais Gostar Disto
Se existe lição a tirar do universo de “A Guerra dos Tronos”, é a de que o episódio 9 de cada temporada costuma trazer resolução à base de bulha e espada. Assim aconteceu quando Ned Stark perdeu a cabeça ou testemunhamos as Batalhas de Blackwater, dos Bastardos e de Winterfell. Contudo, o episódio desta semana de “House of the Dragon” tomou um rumo diferente, centrando-se no rescaldo da morte do Rei Viserys e no mal-entendido criado após a conversa entre o monarca e a Rainha antes do seu último suspiro.
Com o nome “The Green Council”, este episódio é suposto ser sobre a coroação do novo rei e de uma usurpação do trono (os tempos de reinado do Rei Viserys, o Pacifista, já lá vão), mas a realidade é que são duas mulheres (e um dragão) a roubar as atenções.
Ouve o recap do EP9 de "House of the Dragon" no Spotify, na Apple Podcasts ou no Google Podcasts.
Ouve os episódios anteriores, nas plataformas habituais (ou no nosso novo canal de YouTube), se chegaste a "House of the Dragon" um pouco mais tarde.
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Créditos finais
👇 O que não podes perder na cultura pop
House of the Dragon. Sara Hess (produtora-executiva) e Clare Kilner (realizadora) estão “perplexas” pelo facto de Daemon Targaryen se ter tornado numa espécie de “Namorado da Internet”. (The Hollywood Reporter)
Rings of Power. Sucesso ou flop silencioso? As críticas são mistas, as opiniões também. Há quem goste muito, há quem deteste ainda mais. No entanto, entre este meio termo, há uma certeza: os números de visualizações são aos milhões. (IndieWire)
The Crown. A Netflix confirmou que não vai recriar o “momento exato” do acidente automóvel que resultou na morte da Princesa Diana em Paris na sexta temporada da série. (The Sun)
Falhanços de bilheteira. Uma lista com 27 filmes que fracassaram na altura de fazer dinheiro, mas que são de qualidade e valem a pena espreitar. (Variety)
Anatomia de Grey. Jesse Williams (aka Dr. Jackson Avery) vai fazer uma aparição especial na 19.ª temporada da famosa série de Shonda Rhimes. (Collider)
Kevin Spacey. O ator de “House of Cards” chorou em tribunal e lamenta ter pedido desculpa por um crime que, alega, não cometeu. (Variety)
Harrison Ford + Marvel. Indiana Jones vai entrar no novo Capitão América (com Anthony Mackie, não com Chris Evans). (Deadline)
Man of Steel 2. Aparentemente, está na calha um novo filme do Super-Homem com Henry Cavill. (Collider)
Tom Felton (Draco Malfoy de Harry Potter). O ator britânico, hoje com 35 anos, partilhou no novo livro de memórias que sofreu com problemas de saúde mental e que teve uma grande paixão platónica por Emma Watson. (Rolling Stone)
Kanye West. O rapper volta a causar controvérsia. Agora, por negar que George Floyd tenha morrido de asfixia. (Público)
🎥 Let’s Look at the trailer
Save Our Squad with David Beckham (Disney+, série com o ex-futebolista)
Enola Holmes 2 (Netflix, com Millie Bobby Brown)
Mammals (Prime Video, com James Corden)
Tulsa King (Paramount+, projeto de Taylor Sheridan que convenceu Sylvester Stallone a aventurar-se pelo mundo das séries)
FICHA TÉCNICA
Produção MadreMedia
Newsletter escrita por
Abílio dos Reis, Mariana Santos, Miguel Magalhães e João Dinis
Grafismos
Diogo Gomes, Rodrigo Mendes
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