👠 Mais valia estarem quietos
Já disse e volto a dizer: voltar ao sítio onde já fomos muito felizes pode ser perigoso. Ainda mais quando esta viagem acontece com as nossas séries preferidas, cujos episódios originais estrearam há 10 anos (ou mais). Como já podem ter adivinhado, na newsletter de hoje vou falar de "And Just Like That…" e prometo não ter filtros no que diz respeito àquilo que o reboot de “O Sexo e a Cidade” fez mal (ou bem).
Para leres já de seguida,
Mariana Santos
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"And just like That...": Mais valia estarem quietos
A moda chegou nos últimos tempos e parece que está a pegar. “Prison Break”, “Gossip Girl”, “Dexter” e “Gilmore Girls” foram apenas alguns exemplos de séries de sucesso que, anos após terminarem, tiveram direito a reboots e revivals, que é como quem diz, novas temporadas (que podem ou não ser com as mesmas personagens). O exemplo mais recente a aderir à tendência foi “O Sexo e a Cidade”, com o revival a que o criador deu o nome de “And Just Like That…”, que estreou há uns dias na HBO Portugal.
Mas esta não foi a primeira vez em que o grupo icónico de amigas de Nova Iorque voltou à ação. A série original foi transmitida entre junho de 1998 e fevereiro de 2004, mas “O Sexo e a Cidade” marcou de tal forma a cultura pop que, em 2008 e 2010, Carrie (Sarah Jessica Parker), Miranda (Cynthia Nixon), Samantha (Kim Cattrall) e Charlotte (Kristin Davis), as protagonistas deste universo, voltaram a fazer das suas, desta vez em formato de filme.
Em 2014, ficámos a conhecer a origem de Carrie, a personagem principal, em “The Carrie Diaries”, mas a série acabou por não ter o sucesso esperado. Dois anos volvidos, em 2016 ainda surgiram rumores de que um terceiro filme poderia estar a caminho, mas rapidamente foram negados. Passado uns tempos, começámos a ouvir falar da ideia de uma nova série que iria começar a narrativa uns anos depois dos acontecimentos do segundo filme, que vinha a ser confirmada no início deste ano com o nome “And Just Like That…”.
Mas porque é que se gosta tanto de “O Sexo e a Cidade”?
Podia dedicar três ou quatro edições da newsletter a este tema. Apesar de esta série ter tantos anos quanto eu, a verdade é que sou básica ao ponto de dizer que é uma das minhas preferidas de todos os tempos. Já vi, revi, decorei falas, pesquisei onde é que podia comprar O vestido da Carrie, debati com as minhas amigas sobre quem era quem… Enfim, acho que percebem aqui o nível de fã. Mas eu sei que não estou sozinha.
“O Sexo e a Cidade” recebeu 50 nomeações para Emmys ao longo dos anos, 24 para Globos de Ouro e até integra uma lista da TIME onde é classificada como uma das melhores séries de sempre. Mas se tu és daquelas pessoas que vive debaixo de uma pedra e que não sabe de que é que a série trata, eu explico-te tudo! No centro de todos os acontecimentos estão as quatro amigas que, apesar de serem muito diferentes, quer no que diz respeito à vida profissional, quer no que diz respeito ao lado pessoal, se unem para se apoiarem nos momentos bons e maus.
O enredo passa-se quase sempre em Nova Iorque, característica que as personagens assumem quase como um traço de personalidade. Mas a verdade é que esta série era muito mais do que um chick flick, era uma produção com personagens com mentalidades muito à frente do seu tempo. Sexo, Drogas, e até algum Rock & Roll, aqui falava-se de tudo.
Se há coisa que não podemos dizer é que “O Sexo e a Cidade” está cheio de clichés, porque, na verdade, foi aqui que nasceram muitos dos clichés que vemos nas séries e filmes de hoje em dia. A nova iorquina fashionista, a amiga do grupo que está mais focada no seu lado profissional, aquela que já só pensa em encontrar o amor da sua vida e formar família, a mulher mais madura e sem preconceitos nem tabus que dá conselhos a todas as outras… Em suma, sem “O Sexo e a Cidade” muitas das séries e filmes que conhecemos hoje em dia e de que gostamos provavelmente não existiriam. E isso é um valor que nunca ninguém lhe vai conseguir tirar.
E o novo capítulo? Que tal?
Numa série que já tem 6 temporadas, que acumulam entre si mais de 90 episódios onde já aconteceu praticamente tudo, que teve direito a novas histórias em formato de longa metragem e a um spin-off, tornava-se difícil adivinhar como é que a narrativa se conseguia reinventar. Mas eu confesso que nada me preparou para o rumo escolhido pelos responsáveis de “And Just Like That…”.
Para começar, a expectativa já estava um pouco mais baixa do que o habitual quando soube que a atriz Kim Cattrall (que interpreta a personagem Samantha, uma das mais queridas do público) não ia participar no projeto devido a desentendimentos (segundo os rumores, com Sarah Jessica Parker) — e, admito, tinha alguma curiosidade em descobrir como é que a história ia abordar este tema.
Nos primeiros minutos do primeiro episódio, à excepção da ausência de Samantha (cuja falta claramente se nota), parecia estar tudo igual. A Carrie ainda estava com o Big, mais felizes do que nunca. A Charlotte tinha uma família de sonho com o Harry. A Miranda continuava com as vibes de girl boss a que nos tinha habituado durante anos. Mas este conforto de “os anos passam mas continua tudo igual” durou pouco tempo.
Afinal, parecia que a essência das nossas personagens tinha mudado completamente. A narrativa é muito mais woke do que no início dos anos 2000, o que não é necessariamente mau porque são variações dos tempos. A verdade é que temas como o racismo, o feminismo, o espectro de identidade de género e a expressão da sexualidade são metidos de forma muito pouco natural.
Na verdade, estas quase nem parecem ser as mesmas personagens das quais nos despedimos na última vez que as tínhamos visto. Terá sido apenas impressão minha? Não creio. Até porque já li várias reviews que apontam os mesmos defeitos.
É que tanta coisa e nós só queríamos mais obsessão por sapatos e malas, outfits épicos e brindes com champanhe entre quatro amigas às 10 da manhã. Se isto seria mais do mesmo? Sim. Então qual é a conclusão que tiramos deste raciocínio? Mais valia terem estado quietos.
Os primeiros dois episódios de “And Just Like That…” sairam há menos de uma semana na HBO Portugal. No total, são 10 e a partir de agora vamos receber 1 novo por semana. Ainda assim, mal estrearam os primeiros minutos e o revival já estava a causar polémica. Sem te dar grandes spoilers, posso apenas dizer que, no primeiro episódio, há um acontecimento trágico que envolve a Pelaton, uma marca americana de fitness em casa.
Ora, ainda que se trate de ficção, parece que a empresa não gostou muito de estar envolvida nos eventos trágicos, e avançou com um processo contra a produção. Overall, uma enredo mais interessante de acompanhar do que aquele que a série nos apresentou até agora. Lê mais aqui (com spoilers)!
Deste lado, apesar das críticas, vou continuar atenta aos próximos episódios da série. Aproveito e acendo uma velinha. Pode ser que fique melhor. 🙏
Podcast Acho Que Vais Gostar Disto
Depois de uma edição confinada e realizada com recurso ao digital, a Comic Con Portugal voltou a abrir portas a todos os entusiastas da cultura pop (com ou sem cosplay). Este ano, depois de acontecer nos computadores e demais dispositivos móveis, deu um salto físico até ao Parque das Nações de 9 a 12 de dezembro. Cá no burgo, é a oitava edição.
O que teve de diferente? Foi o que perguntámos e procurámos saber junto de Paulo Rocha Cardoso, CEO da Comic Con Portugal, que nos contou não só aquilo que a edição de 2021 teve de especial como aquilo que nos reserva o futuro de eventos como este.
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FICHA TÉCNICA
Produção MadreMedia
Newsletter escrita por
Abílios dos Reis, Mariana Santos e Miguel Magalhães
Grafismos
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