Acho Que Vais Gostar Disto: Não tinha de acabar assim
Portugal foi eliminado e o Europeu perdeu algum interesse, por isso, podemos voltar a prestar alguma atenção a conteúdos que vão aparecendo pelas plataformas de streaming. Hoje, as duas sugestões estão relacionadas com música. Falo de um filme sobre um mundo alternativo onde a “All You Need is Love” nunca foi produzida e sobre um documentário que nos ajuda a perceber melhor a música pop. Para leres já de seguida!
- Miguel Magalhães
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Filmes que não terminam como começam
A primeira sugestão da newsletter de hoje deixou-me com uma sensação agridoce. Não é muito comum, mas, às vezes, existem filmes ou séries que partem de uma premissa muito boa e que depois desiludem na execução final. Conteúdos que teimam em criar algum entusiasmo nos primeiros minutos ou nos primeiros episódios e que, à medida que a história vai evoluindo, perdem toda a originalidade que tinham apresentado inicialmente e terminam com um desfecho mais óbvio. O primeiro filme do qual me lembrei a fazer esta reflexão foi o “In Time” (2011) protagonizado por Justin Timberlake, Amanda Seyfried (“Mamma Mia”) e Cillian Murphy (“Peaky Blinders”).
A ideia do filme é a seguinte: imaginem um mundo onde as pessoas param de envelhecer aos 25 e que a moeda de troca que regula as sociedades, e a compra de produtos e serviços de que necessitam, é o tempo. Os mais ricos são as pessoas que acumularam séculos de vida e têm “dinheiro” para fazer o que quiserem. Os mais pobres acordam regularmente com um número de horas que não os deixa chegar até ao fim do dia. Até aqui, tudo bem. Ótima iniciativa e ótima oportunidade para fazer uma analogia para as sociedades modernas, que andam sempre num frenesim e onde o tempo significa coisas diferentes para diferentes grupos sociais. No entanto, não é necessariamente isso que acontece. Sim, o filme toca no assunto e aborda algumas questões, mas rapidamente se torna num filme razoável e pouco memorável de ação para ser visto num domingo à tarde.
“Yesterday” (disponível na Amazon Prime Video) é a minha mais recente adição a este clube de filmes com potencial desperdiçado. E esta custou especialmente, porque o filme tinha tantas coisas para correr bem. Por um lado, tinha ao leme Danny Boyle (“Trainspotting”) e Richard Curtis (“Notting Hill”), um dynamic duo incrível para quem é fã de cinema britânico como eu. Por outro, a narrativa desta longa-metragem mexia com a banda mais importante de todos os tempos (na minha humilde opinião), os Beatles. Passo a explicar.
Jack Malik é um aspirante a artista musical, numa pequena cidade inglesa, que, para financiar o seu sonho, trabalha em part-time num supermercado, que lhe dá a agilidade para ir dar concertos nos lugares mais inóspitos, onde muito pouca gente presta atenção à sua música. Ao seu lado, tem a sua “manager” e melhor amiga Ellie, com a qual, para espanto do seu grupo de amigos, nunca se envolveu. Apesar da muito boa vontade de ambos, os anos foram passando e Jack nunca conseguiu atingir o sucesso e começa a pensar que está na hora de desistir da música. Até que, num dia, um apagão universal de eletricidade leva não só Malik a ter um acidente, mas muda dramaticamente o seu mundo.
Quando acorda e regressa à rotina, apercebe-se que ninguém sabe quem são os The Beatles. “Twist and Shout”, “Yesterday”, “Here Comes The Sun” são músicas que nunca fizeram parte da vida das pessoas e que foram completamente apagadas da História, bem como os membros que estiveram por detrás da sua criação. Nisto, a uma tristeza momentânea, segue-se uma ideia de génio: se ninguém sabe da existência da banda, pode usar estas músicas como se fossem suas e tornar-se um fenómeno global, sem ninguém saber que, na realidade, era uma fraude. E é isso que acontece.
A ascensão de Jack Malik é utilizada para fazer algumas reflexões sobre a indústria musical e sobre um mundo sem Beatles.
A sua entrada a ribalta é uma homenagem à importância da banda e à intemporalidade das suas músicas. Um sinal de que uma boa canção vai ser sempre capaz de criar empatia com uma audiência, tenha sido tocada na década de 60 por quatro jovens ingleses ou interpretada por um jovem millennial em pleno século XXI.
A sua relação com fama é uma demonstração das implicações de ter de lidar com managers gananciosos, com agendas hiper preenchidas de concertos no mundo inteiro ou com dicas musicais idiotas de Ed Sheeran, que sugere que “Hey Jude” devia ser “Hey Dude”. Tudo coisas que levam Malik a pensar que a popularidade se calhar não é o seu cup of tea.
Arrisco-me a dizer que 60% do filme é muito bom, super original e vale super a pena. O problema começa na hora de desenhar um desfecho para a história. À medida que a história se vai aproximando do fim, o filme vai-se desligando do mundo que criou e foca-se em seguir o registo de uma comédia romântica típica, na qual Malik tem de escolher entre o seu sonho e a vida que sempre conheceu. É uma forma terrível de tentar fechar a história? Claro que não, mas parece um caminho preguiçoso para quem ousou pensar numa realidade em que a música, como a conhecemos hoje, poderia existir sem os Beatles. A resposta é não.
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Já que falamos de música
Esta semana, chegou à Netflix o documentário ao qual poderás achar piada. Não é um true-crime para te dar pesadelos à noite, nem um conjunto de histórias sobre animais ou ambiente que te fazem sentir mal por não reciclares ou teres comido carne três vezes esta semana. “This is Pop” é uma série documental que conta a história de algumas das influências e tendências da música pop atualmente. Cada episódio está com um bom ritmo e nada aborrecido, há espaço para ouvir hits que passaram nas rádios nas últimas décadas e grafismos que ajudam a representar as histórias da melhor maneira.
Até agora só vi dois dos episódios, que posso partilhar contigo:
Um deles está relacionado com o fenómeno das boysband e de como foi impulsionado por uma banda da qual de certeza já ouviste falar, mas que, tal como eu, não te lembras do nome de uma única música: os Boys II Men. No início dos anos 90, o quarteto acumulou Grammys e hits nos tops da Billboard, contudo depois apareçam grupos como os Backstreet Boys e os NSYNC que levaram a banda a cair no esquecimento.
O outro está relacionado com o aparecimento do Britpop e da rivalidade entre os Oasis e os Blur, que dividiu o Reino Unido ao meio, colocando de um lado uma banda que era mais ouvida pela classe operária do Norte (Oasis) e, do outro, uma banda que representava a classe média privilegiada muito centrada em Londres. A determinação do vencedor ainda causa algum debate, mas foram claramente os Oasis.
Outros episódios incluem, por exemplo, o aparecimento do auto-tune ou a crescente importância que festivais de verão como Glastonbury foram ganhando nas últimas décadas. E que saudades temos deles.
Créditos Finais
Os meus álbuns da semana. Sugestão 1 e Sugestão 2.
Clube da Felicidade. Não percas amanhã a estreia do novo projeto do Carlos Coutinho Vilhena. Se precisares de preparação, podes ouvir o episódio mais recente do nosso podcast, na qual recebemos o humorista para revisitar “O Resto da Tua Vida” e para fazer uma antevisão daquilo que podemos esperar da sua nova série.
Conan O’Brien. O popular apresentador americano apresentou na semana passada o seu último episódio do seu talk-show. Vê aqui a despedida.
Os Sopranos. Já há trailer para o filme prequela da popular série da HBO. "The Saints of Newark" vai estrear a 1 de outubro.
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