Acho Que Vais Gostar Disto: O Regresso do Rei
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Bo Burnham: O Regresso do Rei
A certa altura, Bo Burnham fala a sério. Não é coisa pouca um humorista dizer a verdade. Pode ter o mesmo risco que um trapezista fazer um triplo mortal sem a rede por baixo, que um Uber conduzir sem GPS ou um futebolista jogar contra o Pepe sem caneleiras.
Bo Burnham costuma dar-nos pistas daquilo que pensa através da ironia, dizendo exatamente o contrário das suas convicções, mas à medida que nos vamos aproximando do fim do seu último solo de comédia, o Make Happy, em jeito de desabafo deixa escapar um enigmático: “Sobre o que é que é este espetáculo?”.
A pergunta planta alguma curiosidade na plateia. Quem é, afinal, este puto franzino que aos dezasseis anos foi catapultado para o sucesso por culpa de um algoritmo do YouTube atento aos seus vídeos onde, debruçado num piano, quase corcunda, ironiza timidamente as suas dores?
A resposta vem do próprio: “tudo isto é sobre performance”. Bo atua para pessoas desde os seus catorze anos. Essa relação umbilical com a representação é a base do seu texto. Não duvido que, com os anos, ter-se-á sentido pressionado a falar daquilo de que os outros queriam que ele falasse, dos habituais lugares comuns da comédia - os homens e as mulheres, a fama, o trânsito, o que for - mas sempre escolheu falar daquilo que conhece. É um meta-texto onde se usa dos tais temas como os homens, as mulheres, a fama, o trânsito, o que for, para na verdade falar sobre a forma como fala das coisas, numa espécie de cesariana ao cérebro que dá à luz a sua consciência enquanto artista.
Era de esperar que alguém que fala sobre uma coisa tão específica não atingisse números vertiginosos no YouTube (nem nos palcos). Quem é que quer ouvir um menino que não fala sobre ter copiado num exame? É aqui que Bo, no tal raro momento sério em Make Happy, nos explica que todos estamos, de alguma forma, a representar. A única diferença é que ele o faz com um microfone na mão em frente a milhares de pessoas, enquanto outros estarão em performance no dentista ou na fila para o autocarro. Todos já chegámos a fingir ser algo que não somos, seja através de filtros no Instagram ou numa conversa com alguém com quem não concordamos mas temos pouca intimidade para confrontar.
Cinco anos passaram desde Make Happy. Bo Burnham divorciou-se do stand-up comedy e só nos apareceu em personagem. Podem matar saudades dele em Promising Young Woman e em Big Sick, filmes onde desempenha competentes papéis secundários enquanto ator.
Mais importante durante este hiato no humor é a sua estreia no cinema enquanto realizador e argumentista, no seu Eighth Grade, onde nos conta a história de uma adolescente do 8º ano que atravessa as angústias típicas da idade perdida entre o liceu e a faculdade. Outra vez, Bo Burnham fala daquilo que conhece. Muitos coming of age foram escritos, mas o que torna este especial é o olho de cirurgião com que Bo Burnham recria todos os conflitos de uma jovem que deseja pertencer a algo, sem saber bem o quê. Está ali a verdade, escrita por alguém que já foi um adolescente com acne e complexos corporais numa festa na piscina.
Foram-nos deixadas várias pistas de que Bo não voltaria a ser feliz num palco. Numa breve pesquisa no Google encontrarão frases polémicas dele sobre os comedy clubs americanos. Os cinco longos anos de espera por um novo especial de comédia acabam por ser curtos, quando tudo apontava para que o silêncio fosse para sempre. No próximo dia 30 de Maio, Bo Burnham e o stand-up comedy fazem as pazes. Inside é o nome do novo especial e sairá na Netflix. O espetáculo terá uma dimensão claustrofóbica, já que foi rodado no seu próprio quarto/estúdio, onde curiosamente terminou o último.
Em que ponto estará Bo Burnham?
Haverá resquícios do puto obcecado com a fórmula que vimos em Words Words Words, o solo que o atirou de youtuber para comediante? Terá resolvido as questões de ego e alguma agorafobia que o assaltavam em What? Os ataques de pânico que confessou em várias entrevistas, de onde destaco aquela no H3 - o podcast e não a hamburgueria -, continuam a tirar-lhe qualidade de vida? Em que ponto estará o miúdo que, no último bit em que o vimos em palco, começou por reclamar do diâmetro das latas de Pringles para depois evoluir numa reflexão sobre a sua própria saúde mental?
Seja o que for que aí vem, Bo Burnham estará a dizer a verdade.
Guilherme Geirinhas
Entretanto, Habemus Podcast
A reunion de "Friends" deu-nos a oportunidade de passar do e-mail para o áudio e de fazer o episódio-piloto do nosso podcast.
O nome mantêm-se o mesmo e a boa disposição também. Numa hora de conversa, vais poder ouvir o Miguel Magalhães, a Mariana Santos, o Pedro Silva, a Luísa Barbosa e o João Dinis a discutir não só o episódio especial de "Friends", mas também o que fez esta série tornar-se tão marcante para tantas pessoas.
Qual é a melhor coisa da série? "Friends" resultava se fosse feita em 2021? O que faz uma série dos anos 90 ser tão popular numa faixa etária de pessoas que, em muitos casos, nem eram nascidas quando as primeiras temporadas foram transmitidas? São algumas das grandes questões da Humanidade para os quais vamos tentar achar uma resposta.
Ouve aqui o 1º episódio do podcast "Acho Que Vais Gostar Disto" no Spotify.
Deixa os teus comentários em vaisgostardisto@madremedia.pt ou no chat do nosso Instagram.
Esperemos que gostes disto!
Equipa Acho Que Vais Gostar Disto
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