Acho Que Vais Gostar Disto: 4 séries para ver ao almoço
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Ementa do dia: 4 séries para ver ao almoço
Lá em casa a televisão nunca teve lugar à mesa.
Foram mais de duas décadas de uma opressiva ditadura que me moldou para o pensamento único: ver televisão à mesa é cocó.
Longos anos de refeições sob um regime autoritário onde o Grande Líder - os meus pais - acusava a televisão de querer assaltar o poder do diálogo à mesa.
A revolta que tinha em mim, por não me ser permitido triturar alimentos enquanto rodava um episódio de Inspetor Max, sempre foi grande, mas nunca grande o suficiente ao ponto de querer furar a vigilância pidesca daqueles que viam na televisão um inimigo de uma boa conversa na hora de jantar.
Acumulei frustração. Ouvi com tristeza o meu melhor amigo confidenciar que via televisão à mesa com os pais, que chegava a alinhar as suas refeições com as dos concorrentes da Casa dos Segredos para almoçar com eles.
Hoje sei que os meus pais apenas o faziam com boas intenções, mas nem assim resisti a vingar-me no dia em que fui viver sozinho. Foi aí que procurei alguma redenção. A curadoria da programação cultural das refeições passou a depender apenas de mim. Foi o grito do Ipiranga de um menino que durante vinte e sete anos nunca pôde fazer zapping enquanto comia panados com esparguete.
A televisão é boa companhia, mas não é qualquer programa que é compatível com a refeição. Ninguém quer ver ao almoço um thriller labiríntico que exige um envolvimento incompatível com a concentração necessária para retirar as espinhas de uma dourada.
Um bom conteúdo para a hora de almoço combina algumas coisas importantes: entretém, informa e, mais importante que tudo, não dura mais de trinta minutos. Um bom programa de almoço é como o almoço em si: é para acabar. As sugestões que aqui apresento cumprem estes requisitos. Cá vai a ementa com os pratos do dia.
ENTRADA | Money, Explained
Começamos a refeição com a nova temporada da série Explained, que concentra cinco episódios sobre o dinheiro. Seja quem for que esteja à mesa - um idoso que procura um bom PPR ou um discípulo de Cláudio André que deseje enriquecer com um esquema de Ponzi do dia para a noite - esta série satisfaz dúvidas que provavelmente muitos terão. É uma espécie de “Money for Dummies” muito competente, que resume em curtos episódios de vinte e poucos minutos alguns conceitos como empréstimos, créditos, gambling e outros que tal. "Money, Explained" não deixa de ser também uma dupla provocação lá em casa, já que combina dois frutos proibidos tão ditos pelo meu pai: “à mesa não se vê televisão” e “à mesa não se fala de dinheiro”.
PRATO PRINCIPAL | How To With John Wilson
“O humor é contraste”, já dizia um importante senhor que na Wikipédia está descrito como “humorista, escritor, filósofo, barbeiro”. Há duas formas muito práticas de tornar esse contraste possível: usar uma linguagem complexa para falar de coisas mundanas, ou utilizar uma linguagem mundana para falar de coisas complexas. O que John Wilson faz aqui nesta mini-série documental contraria o próprio contraste: fala de coisas mundanas com linguagem mundana. É uma experiência contra todos os manuais de escrita criativa da Porto Editora, já que não segue nenhuma fórmula. Não é uma série que respeita uma equação. Resulta porque é diferente, fresco, bizarro e, à falta de melhor adjetivo, genial. Numa geração YouTube carregada de tutoriais pertinentes - como instalar o Windows num Mac, como isto, como aquilo - aparece aqui John Wilson a explicar-nos as coisas que importam: Como colocar andaimes? Como dividir a conta? Como cozinhar o risoto perfeito? Fá-lo de câmara no ombro, filmagem crua, registo documental e sem presunção. Para quando um episódio sobre "Como almoçar sem ver televisão"?
ACOMPANHAMENTO | Painting With John
Para acompanhar John Wilson, porque não outro John? Desta vez falo de John Lurie, o músico, que nos guia numa viagem espiritual através dos seus pensamentos que vão desde a fama até aos elefantes. Enquanto as palavras lhe escorrem numa meditação que tornará serena até a mais tempestiva das almas, John vai pintando coisas que, para um leigo em pintura como eu, julgo serem metáforas visuais para aquilo que diz. A pintura é uma boa companhia para as refeições, ou não dissessem os nutricionistas que os alimentos mais saudáveis são os que têm mais cor.
SOBREMESA | State of The Union
Um casal à beira do divórcio encontra-se num bar antes da sua habitual sessão de terapia. Nunca chegamos a entrar dentro da consulta com eles, tudo o que sabemos é o que acontece naqueles minutos que, episódio atrás de episódio, antecedem a terapia que irão fazer. Está aqui uma bela série para se ver em casal durante o jantar e, porque não, exorcizar alguns males comuns do amor. "State of the Union" é aquele ananás ácido para terminar a refeição. Não me responsabilizo se, por causa dele, também terminarem a relação.
Boas séries. Digo, bom apetite.
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