Acho Que Vais Gostar Disto: De nada pelas ideias, Academia
Ontem foi noite de Óscares, hoje é dia de newsletter. A cerimónia icónica da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas atribuiu pela 93ª vez os prémios mais importantes da indústria do cinema. Se não conseguiste ver ou se queres recordar, fiz um pequeno resumo para ti. Para além disso, parece que ainda houve prémios que ficaram por atribuir. Curioso? Descobre tudo de seguida!
- Mariana Santos
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A grande noite foi assim
Como ficar acordado até às 4 da manhã não é para todos, e como as threads do Twitter nem sempre contam o que realmente importa, vou facilitar-te a vida e fazer uma síntese alternativa da cerimónia. Se quiseres um resumo mais a sério, o Abílio dos Reis acompanhou tudo ao detalhe no SAPO 24 e podes ler aqui.
Ora, a cerimónia começou com as formalidades introdutórias a que todos já estamos habituados, mas sem o habitual je ne sais quoi que dá magia aos Óscares. Desta vez, de forma repartida um pouco por todo o mundo, com uma plateia menor no Dolby Theater e sem a típica música que interrompe todos os discursos a meio.
Para abrir as honras da casa, os primeiros prémios da noite foram os de Melhor Argumento Original e Melhor Argumento Adaptado. Os vencedores foram, respetivamente, “Promising Young Woman”, um filme sobre uma super-heroína que nos deu ideias sobre como vingar todas as vítimas de assédio e abuso, e “The Father”, aquele que, de todos, é o que promete arrancar mais lágrimas e que é impossível ver sem um pacote de lenços ao lado (ou, melhor ainda, com aqueles rolos de cozinha mais resistentes). Mas não era hora de fazer a festa. Ainda só eram conhecidos dois vencedores, e eu tenho sempre um feeling de que quem ganha nas primeiras categorias já não arrecada nada mais lá para o fim.
Seguiram-se as restantes estatuetas sobre as quais nem sempre temos uma opinião formada, provavelmente por se focarem em questões mais técnicas ou pela falta de conhecimento no tema. No final de contas, o que toda a gente quer saber é qual foi o Melhor Filme, o Melhor Realizador, os melhores atores principais e secundários, e, claro, quem leva mais bonequinhos dourados para casa. Assim sendo, vou poupar-te a lista das restantes categorias.
Vamos ao que realmente interessa
Começamos pelo “mais pequenino” no meio dos grandes, os Melhores Atores Secundários. Na categoria masculina, ganhou aquele que interpretou uma das personagens mais badass desta award season e que, sem dúvida, é o que fica melhor com uma boina. Ainda que previsível, não podemos negar que foi bem entregue a Daniel Kaluuya, pela prestação em “Judas and The Black Messiah”.
Na categoria que premeia as mulheres que, mesmo com um papel secundário, brilham no filme, as apostas não eram consensuais. Para mim, tanto Olivia Colman como Maria Bakalova seriam boas surpresas, mas há pontos fracos aos quais nem a Academia resiste. O prémio foi entregue a Yuh-jung Youn, que se tornou na primeira atriz coreana a ganhar um Óscar e que nos apresentou uma avó adorável, que certamente derreteu muitos corações em “Minari”. Já deviam saber que com idosas adoráveis é difícil competir.
Nos papéis principais, a decisão tornava-se ainda mais difícil de prever e havia várias opções igualmente justas. Dentro do envelope dourado de Melhor Atriz Principal estava o nome de Frances McDormand, que deu vida a Fern em “Nomadland”, uma mulher cujas circunstâncias de vida a obrigaram a tornar-se numa nómada e a viver na sua carrinha. Foi um prémio merecido para uma prestação à qual não devemos poupar elogios.
Já na categoria de Melhor Ator, as apostas apontavam para Chadwick Boseman, mas foi um homem que anda nisto há anos e anos que levantou a estatueta. Quer dizer, na verdade, não. Depois de anunciar o vencedor, Joaquin Phoenix ficou pendurado porque Anthony Hopkins já não estava presente. Mas também já era tarde e o senhor não tem vida para isto. A verdade é que Hopkins não precisa de provar nada a ninguém, tem um portfólio invejável e, ainda assim, vestiu a pele de Anthony, personagem principal do filme “The Father”, como se dele próprio se tratasse. Arrepiante, emocionante e épico. Eu não vos disse que era difícil competir com velhinhos adoráveis e talentosos?!
Resta-me falar de dois prémios: O de Melhor Filme e o de “Gajo/Gaja a cujos filmes vamos estar mais atentos no futuro”, que é como quem diz, o de Melhor Realizador. Aqui, foi feliz Chloe Zhao, uma mulher chinesa que trabalhou para nos dar “Nomadland”, um filme que na verdade é a adaptação de um livro e que nos conquista pela simplicidade do quotidiano que nos torna tão complexos (e complicados).
Mas chegou o momento do grande vencedor. Segundo as profecias ancestrais (que, na verdade, acabei de inventar), ganhar o prémio de Melhor Realizador é meio caminho andado para fazer o discurso que, em edições anteriores, encerrava a cerimónia. Os astros alinharam-se e o Melhor Filme da edição deste ano foi “Nomadland”, aquele que misturou ficção e documentário, que mostrou uma realidade que nos é tão próxima, que parece que podia ter sido gravado no Parque de Campismo da nossa cidade.
Para fazer as manchetes do dia seguinte, também é preciso fazer contas. Nesta edição, marcada pela diversidade, não é difícil perceber quem é que brilhou. É caso para dizer que “Nomadland”, Chloe Zhao e Frances McDormand chegaram, arrasaram e levaram para casa 3 Óscares.
Os prémios que ficaram por atribuir
Em Hollywood, o talento não falta e, por isso, há que premiar todo o tipo de responsáveis pelas obras de arte que passam para o cinema. Mas claro que, entre as 23 categorias, há que fazer escolhas, e nem todos os prémios que merecem ser atribuídos o são.
Os Óscares foram ontem, mas como nesta newsletter não temos qualquer problema em fazer a festa, atribuir prémios, lançar os foguetes e apanhar as canas, vou contar-te algumas categorias alternativas e coroar os devidos vencedores. Desta vez, sem reações efusivas nem discursos demasiado longos. Se virem qualquer um destes prémios ser atribuído numa próxima edição, certamente não será coincidência. De nada pelas ideias, Academia.
Óscar de “Quem sai aos seus”: Esta categoria vai premiar aquele filme que, no fundo, tem mais potencial para ser relembrado ao longo dos anos e para se tornar um filme de culto. Neste caso, o vencedor é “Mank”, e penso que é fácil perceber porquê. A longa metragem de David Fincher conta parte da história de Herman J. Mankiewicz, a mente por detrás de outro filme de culto, “Citizen Kane”. Não deixando de ser um filme interessante, está ali quase à beira do demasiado meta e pseudo-pretensioso sobre o qual ninguém quer dizer coisas más.
Óscar de “O que conta é participar”: As apostas pré-cerimónia valem o que valem, mas é inevitável não falar em favoritos. Muitas nomeações não garantem prémios, e por vezes a Academia prega partidas e quem achou que ia levar alguma coisinha para casa saiu de mãos a abanar. Nesta edição, o vencedor que saiu perdedor foi “Os 7 de Chicago”, que em 6 nomeações não venceu qualquer categoria.
Óscar de “Só isto?!”: Não podem ganhar todos, mas sinto que há sempre aquele filme underrated que merecia mais do que aquilo que ganhou. É com grande felicidade e emoção que entrego esta estatueta a “Minari”, que foi uma boa surpresa e conquistou um lugarzinho muito especial no meu coração.
Óscar de “Momento Icónico da Noite”: Noite de Óscares é significado de manhã de memes. A internet não perdoa e os olhos estão postos em todos os detalhes, movimentos e acidentes que possam acontecer e que mais tarde se podem tornar pérolas da internet. Ainda que esta edição tenha sido, na minha opinião, mais fraquinha e tenha ficado um pouco aquém das expectativas, este falso shot de Viola Davis ainda na passadeira vermelha foi o meu preferido.
Óscar de “Pau para toda a colher”: Nem todos os filmes que chegam à lista de nomeados são consensuais, e muitas vezes há o hábito de os recomendar seguido de um “Acho que vais gostar deste, se filmes de _____ são a tua cena.” Ora, na lista deste ano, há um que, para mim, serve de recomendação para todo o tipo de gostos. Tem a dose certa de humor, entretenimento, drama e uma pitada de educação cívica. Para fechar a 93ª edição dos Óscares, e a primeira do Acho Que Vais Gostar Disto, a estatueta vai para “Promising Young Woman”.
Créditos Finais
Talento para lá da representação: Vou deixar-te aqui um pequeno tesouro que descobri por mero acaso, mas que me deixou com um sorriso na cara: a conta de TikTok de Anthony Hopkins.
Também faço sugestões musicais: Por isso, vou deixar-te aqui um Tiny Desk que tenho estado a ouvir em modo replay.
O meu tipo de match perfeito: Se ainda não conheces a app browsebuster, tens mesmo de dar uma vista de olhos. Tal como nas dating apps, vais poder fazer swipe right e swipe left a filmes e séries, e no final dás match com quem tem gostos semelhantes aos teus.
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