Acho Que Vais Gostar Disto: Vai uma rapidinha?
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Vai uma rapidinha?
Uma vez por semana.
Normalmente, à noite.
Há quem prefira no escuro.
Há quem goste mais com luz.
Há quem adormeça a meio.
Quando um acaba sozinho, o outro sente-se traído. É o que dizem as estatísticas: os nossos hábitos de consumo de filmes confundem-se com os desejos da nossa libido. Cada vez temos menos tempo para ambos. A “rapidinha” é uma solução que é muito bem vista na segunda, mas na primeira nem por isso.
Por isso mesmo, esta semana trago cinco rapidinhas, uma para cada dia útil da semana. São cinco histórias sem preliminares, onde se vai direto ao assunto. Todas elas são curtas-metragens nomeadas para o Óscar, nas categorias de animação, live-action e documentário. A duração média de cada uma delas, calculei eu, são quinze minutos. Dá para ver enquanto se espera pelo autocarro. Num intervalo de um jogo de futebol. Na fila de espera para tomar a vacina. Onde for. Agora é convosco.
SEGUNDA-FEIRA | Burrow
Duração: 5 minutos
Disney Plus (está também disponível no Youtube uma versão cortada por causa dos direitos de autor)
Não querendo roubar muitos minutos à vossa segunda-feira, preenchida a apagar newsletters (como esta) acumuladas durante o fim de semana, que subscreveram e entretanto se arrependeram, que tal darem uma oportunidade a este "Burrow''? Um filme de animação em 2D, com poucos artifícios a distrair-nos da história, para fazer a média com a alta tecnologia de bonecos em 3D que numa sala de cinema nos atiram uma nuvem para o olho. A história é simples e fala sobre o sentimento de pertença. São cinco minutos.
TERÇA-FEIRA | Feeling Through
Duração: 18 minutos
YouTube
Das coisas que a pandemia nos veio roubar, o toque é a mais flagrante. Simples atos como cumprimentar ou carregar no botão do elevador passaram a evitar-se ou a fazer-se com um tímido cotovelo. É daí que vem a força deste “Feeling Through”, que nos dá a conhecer Artie, um surdo-cego a quem, num mundo sem luz e sem som, apenas resta o toque. O ator que faz de Artie é mesmo surdo-cego na vida real. Os três milhões de views e os muitos comentários com que a curta conta no YouTube são o reflexo de que, de alguma forma, todos estamos surdos e cegos para alguma coisa. Este é para ver terça-feira, enquanto cozinham, para ter a desculpa de que as lágrimas só apareceram porque estavam a descascar cebolas.
QUARTA-FEIRA | Do Not Split
Duração: 34 minutos
Vimeo
A meio da semana, um país dividido ao meio. Aqui do nosso cantinho onde as revoluções se fazem em 280 caracteres no Twitter, chega este documentário sobre Hong Kong, que vive numa guerra civil desde 2019. Os jovens saíram à rua descontentes com a submissão do país perante a China, para onde muitos cidadãos acusados de crimes são diariamente extraditados. São trinta e quatro minutos que nos fazem sair da nossa bolha onde o drama são tweets incendiários, para observar um país literalmente debaixo de fogo. Carros a arder, chuva de cocktails-molotov, tiros de pressão de ar, toda esta guerrilha artesanal entre jovens e polícia lembra um filme de guerra, só que neste as explosões não são feitas com efeitos especiais. Alguma coisa esta curta nomeada ao Óscar terá feito bem, já que pela primeira vez a televisão estatal de Hong Kong não irá transmitir a cerimónia. Vejam, sem cerimónias.
QUINTA-FEIRA | Yes-People
Duração: 8 minutos
YouTube
"Sim". "Sim". "Sim". "Sim". "Sim". É a única palavra que se ouve durante oito minutos. Podia ser a transmissão dos casamentos de Santo António, mas não, é uma curta de animação criada pela The New Yorker. “Yes-People” passa-se numa realidade paralela onde seis pessoas que vivem no mesmo prédio só dizem esta palavra. Podem vê-lo com legendas em croata que vão perceber na mesma. É tão simples, tão simples, que fiquei com demasiadas conclusões na cabeça e tive de ir ao Google pesquisar “yes people short-file meaning”.
SEXTA-FEIRA | If Anything Happens I Love You
Duração: 12 minutos
Netflix
Várias vezes me apareceu este “If Anything Happens I Love You” nas stories do Instagram. Não é fácil uma curta-metragem a duas dimensões tornar-se tendência numa plataforma cujo algoritmo privilegia Reels onde se aprende a fazer guacamole com uma serra elétrica. A culpa há-de ser da Netflix, que catapulta qualquer coisa para o mediatismo, mas também (e sobretudo) da história. Uma forma simples de retratar a perda e a forma como encaramos o luto, ainda mais num ano onde ele tem batido a várias portas. A biologia continua por explicar como é que um conjunto de rabiscos, desenhados com um lápis de carvão B2, consegue forçar desta forma as minhas glândulas lacrimais.
UMA COISA MAIS DEMORADA PARA O FIM-DE-SEMANA
Quem, como eu, aproveita para arrumar tralha ao fim de semana sabe que pode encontrar um herbário de Ciências da Natureza do 7º ano numa gaveta que não era aberta desde 1997. Foi o que aconteceu no sábado passado, quando estava a vasculhar o Letterboxd e encontrei na minha watchlist o esquecido “Private Life”. O filme é de 2018, está na Netflix, e conta-nos as angústias de um casal pouco fértil que procura todas as soluções que existem para conseguir ter filhos. Algo que no nosso imaginário nos parece romântico acaba por se transformar numa experiência de laboratório onde um médico de bata faz os filhos num balão de Erlenmeyer. A história podia muito bem ter caído num tom demasiado dramático, mas em vez disso usa diálogos provocantes para transmitir a dor das personagens sem os truques do costume. Não é uma rapidinha, mas é uma daquelas em que o tempo passa a correr.
Até para a semana, sem pressas.
Guilherme Geirinhas
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