Acho Que Vais Gostar Disto: Foi só fazer um mais um
Hoje, a newsletter chega num formato ligeiramente diferente, só ligeiramente. Em vez de uma série de sugestões, hoje vou só falar de uma série e dos acontecimentos que levaram a que esta chegasse ao pequeno ecrã. Conta com personalidades, personagens e histórias sobre as quais já poderás ter ouvido uma coisa ou outra. Para leres já de seguida!
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Era uma vez um jovem feiticeiro
Um estudo da UNESCO de 2013 afirmava que anualmente eram publicados 2,2 milhões de livros em todo o mundo. Parece muito livro e tens razão. O famoso físico Stephen Hawking chegou a confessar que, ao ritmo a que novas obras literárias surgiam, se estas fossem sendo empilhadas, teríamos de “andar” a 144 km/h para nos aguentarmos no topo. Confuso? Isto serve para dizer que estar a par de tudo o que é lançado é uma tarefa impossível e que conseguir que um livro se destaque no meio de tantos é uma tarefa muito difícil que requer, na maior parte dos casos, algum pingo de sorte.
A história de como J.K. Rowling se tornou na autora mais bem-sucedida de sempre é conhecida por muitos. Nos anos 90, depois de um divórcio complicado, Rowling ficou com a responsabilidade de tomar conta da sua filha mais nova. Durante alguns anos, dependeu exclusivamente de apoios do Estado para a conseguir sustentar, enquanto escrevia aquilo que se viria a tornar “Harry Potter e a Pedra Filosofal”. Algum tempo passou (incluindo um período em Portugal, que inspirou algumas partes da história) e, com o livro pronto, a escritora inglesa começou a abordar diversas editoras para ver se tinham interesse em publicá-lo.
Hoje em dia estarão certamente irritadas com a sua decisão, mas a verdade é que antes de receber um “ok” de uma pequena editora inglesa chamada Bloomsbury, J.K. Rowling viu a sua história sobre um jovem feiticeiro ser rejeitada por nada mais, nada menos do que doze editoras. As 2.500 libras que recebeu de adiantamento da Bloomsbury foram o primeiro rendimento gerado pela saga Harry Potter e o primeiro passo para que Rowling se tornasse, cerca de 15 anos mais tarde, na primeira escritora a entrar na lista de bilionários da Forbes. Vamos olhar para alguns números:
Até ao início de 2018 (portanto agora serão certamente mais), tinham sido vendidos 500 milhões de exemplares da saga de Harry Potter em todo o mundo, traduzidos em mais de 80 línguas.
A adaptação do universo mágico ao grande ecrã fez mais dinheiro do que o Banco Gringotts (o banco de feiticeiros do universo de Harry Potter) Os 10 filmes produzidos (oito da saga original, dois das prequelas de “Fantastic Beasts”) a geraram perto de 10 mil milhões de dólares em receitas de bilheteira.
Depois ainda há a peça de teatro “Harry Potter e a Criança Amaldiçoada” que se tornou uma das mais rentáveis de sempre na Broadway e todo o dinheiro feito com a licença de direitos de utilização do mundo de Hogwarts para brinquedos, videojogos, roupa e parques de diversão.
Muito dinheiro.
No entanto, a história que quero partilhar não é sobre o sucesso de Harry Potter. É sim sobre como é que uma autora reconhecida por todos elaborou um esquema para publicar uma nova história, cujo sucesso não dependesse da reputação do seu nome, mas sim da sua qualidade intrínseca.
Uma saga famosa não era o suficiente
No início da década de 2010, J.K. Rowling lançou a sua primeira obra pós-Harry Potter chamada “Uma Morte Súbita”. Era um livro mais adulto, com uma história mais local sobre corrupção e política e, mesmo antes de ser publicado, vendeu 1 milhão de exemplares antecipados em todo o mundo. As críticas foram mistas e, apesar de serem apontados alguns elogios à nova narrativa, esta foi classificada como “uns degraus abaixo” daquilo que Rowling tinha feito anteriormente.
A autora britânica ainda considerou publicar a obra sob um pseudónimo, mas acabou por decidir tomar o risco, afirmando que o pior que podia acontecer era as pessoas acharem o livro horrível e dizerem para se dedicar apenas a escrever para crianças sobre feiticeiros. E, aparentemente, vivia bem com isso.
Fun fact: se pensarmos bem, o próprio nome J.K. Rowling é em si um pseudónimo visto que a autora não tem nenhum nome começado por “K”. Isto aconteceu porque, quando lançou “Harry Potter”, Rowling não queria ser discriminada com base no seu género.
Em abril de 2013, um tal de Robert Galbraith, um autor desconhecido que se descrevia como “um antigo militar com experiência na indústria da segurança privada”, publicou um romance criminal com o título “Quando o Cuco Chama” protagonizado por um detetive privado chamado Cormoran Strike. O livro passou muito despercebido e nos primeiros meses vendeu apenas 1.500 cópias físicas e mais umas quantas em formato eBook, não recebendo nenhuma crítica de relevo. Contudo, o livro chamou a atenção de um jornalista inglês do The Sunday Times depois de um leak no Twitter (claro) onde “um amigo da mulher de um advogado de J.K. Rowling” dizia que Galbraith era um pseudónimo da escritora.
Apesar do tweet ter sido apagado, iniciou-se a investigação por parte do jornal. Primeiro, juntamente com dois professores de Oxford, comparou-se a escrita de Rowling com a de Galbraith. Depois, descobriu-se que a editora que tinha publicado “Quando o Cuco Chama”, a Sphere Books, era uma filial da editora que tinha publicado o último livro da escritora inglesa. Foi só fazer um mais um e, a 13 de julho de 2013, o jornal confirmou num artigo as suas suspeitas. Afinal, alguém decidiu usar um manto da invisibilidade porque estava com medo da opinião pública.
Será que foi desmanchada pela crítica? Pelo contrário. A seguir ao anúncio, as críticas positivas acumularam-se e as vendas dispararam. Por exemplo: a Amazon registou um aumento de… 500.000% nas vendas da obra após a revelação de que se tratava de J.K. Rowling (o equivalente a vender 1.000 livros durantes 3 meses e 5 milhões nas semanas seguintes à descoberta). Pouca coisa.
O resto é história e desde 2013 foram publicadas mais quatro aventuras da saga de Cormoran Strike sob o nome Robert Galbraith, todas elas best-sellers. Até a mais recente, que saiu no final de 2020, intitulada de “Troubled Blood”, com algumas críticas de transfobia apontadas a J.K. Rowling.
Não se preocupem, a sugestão vem a caminho
Esta semana foi anunciado que está a ser desenvolvida uma nova série do universo de “Harry Potter” para o streaming, mas não é disso que te vou falar, até porque ainda não se sabe muitos detalhes sobre a produção. Como podias estar à espera, os livros de “Robert Galbraith” foram adaptados para uma série produzida em parceria pela BBC e pela Cinemax, que chegou recentemente à HBO Portugal, chamada “C.B. Strike”.
Cormoran Strike é um detetive privado que não anda com a vida muito facilitada. Acabou de terminar uma relação amorosa tóxica e agora vive no seu escritório, cuja renda mal consegue pagar com o dinheiro que tem feito. No mesmo dia em que dá as boas-vindas à sua nova secretária, Robin, que o ajuda a organizar o escritório, recebe também um pedido do irmão de um antigo amigo seu: a irmã adotiva, uma modelo famosa chamada Lula Landry, foi encontrada morta em casa e a causa declarada foi suicídio, algo que ele acredita não ser verdade.
A tarefa de Strike é encontrar provas de que Lula não tirou a própria vida e investigar quem poderá ser o seu assassino. Com a ajuda de Robin, que por alguma razão utiliza o Bing para pesquisar coisas na Internet, o detetive suspeita que se pode tratar de uma conspiração dentro da própria família de Lula e do mundo da moda pelo qual ela navegava. Agora só falta prová-lo.
Isto fez-me lembrar: “Luther”, protagonizado por Idris Elba, que personifica um detetive da polícia que nem sempre escreve por linhas direitas para descobrir os culpados dos crimes que investiga.
Uma divisão estranha: os primeiros quatro livros foram adaptados para minisséries, contudo, na HBO, as primeiras três estão agrupadas em “C.B. Strike”, enquanto a mais recente “C.B. Strike: Lethal White” é apresentada como uma série à parte. Estranho.
Créditos Finais
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